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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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460 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

Portanto, só se consegue <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> impostura alucinatória<br />

retirando <strong>da</strong> percepção a certeza apodítica, e <strong>da</strong> consciência<br />

perceptiva a plena posse de si. A existência do percebido<br />

nunca é necessária, já que a percepção presume uma<br />

explicitação que iria ao infinito e que, aliás, não poderia ganhar<br />

de um lado sem perder do outro e sem se expor ao risco<br />

do tempo. Mas não se deve concluir disso que o percebido<br />

é apenas possível ou provável e, por exemplo, que ele se reduz<br />

a uma possibili<strong>da</strong>de permanente de percepção. Possibili<strong>da</strong>de<br />

e probabili<strong>da</strong>de supõem a experiência prévia do erro<br />

e correspondem à situação <strong>da</strong> dúvi<strong>da</strong>. O percebido é e permanece,<br />

a despeito de to<strong>da</strong> educação crítica, aquém <strong>da</strong> dúvi<strong>da</strong><br />

e <strong>da</strong> demonstração. O sol "nasce" tanto para o cientista<br />

como para o ignorante, e nossas representações científicas do<br />

sistema solar permanecem <strong>da</strong> ordem do dizem que, assim como<br />

as paisagens lunares, nas quais nós nunca acreditamos<br />

no sentido em que acreditamos no nascer do sol. O nascer<br />

do sol e, em geral, o percebido é real, de um só golpe nós<br />

o debitamos ao mundo. Se ca<strong>da</strong> percepção sempre pode ser<br />

"barra<strong>da</strong>" e passar para o rol <strong>da</strong>s ilusões, ela só desaparece<br />

para <strong>da</strong>r lugar a uma outra percepção que a corrige. Ca<strong>da</strong><br />

coisa pode depois parecer incerta, mas pelo menos para nós<br />

é certo que existem coisas, quer dizer, um mundo. Perguntarse<br />

se o mundo é real é não entender o que se diz, já que o<br />

mundo é justamente não uma soma de coisas que sempre se<br />

poderia colocar em dúvi<strong>da</strong>, mas o reservatório inesgotável de<br />

onde as coisas são tira<strong>da</strong>s. O percebido tomado por inteiro,<br />

com o horizonte mundial que anuncia ao mesmo tempo sua disjunção<br />

possível e sua substituição eventual por uma outra percepção, absolutamente<br />

não nos engana. Não poderia haver erro ali onde<br />

ain<strong>da</strong> não há ver<strong>da</strong>de, mas reali<strong>da</strong>de, onde ain<strong>da</strong> não há<br />

necessi<strong>da</strong>de, mas factici<strong>da</strong>de. Correlativamente, precisamos<br />

recusar à consciência perceptiva a plena posse de si e a imanência<br />

que excluiria to<strong>da</strong> ilusão. Se as alucinações devem po-

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