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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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o CORPO 219<br />

cânicas. No próprio Freud, o sexual não é o genital, a vi<strong>da</strong><br />

sexual não é um simples efeito de processos dos quais os órgãos<br />

genitais são o lugar, a libido não é um instinto, quer<br />

dizer, uma ativi<strong>da</strong>de naturalmente orienta<strong>da</strong> a fins determinados,<br />

ela é o poder geral que o sujeito psicofísico tem de aderir<br />

a diferentes ambientes, de fixar-se por diferentes experiências,<br />

de adquirir estruturas de conduta. É a sexuali<strong>da</strong>de que<br />

faz com que um homem tenha uma história. Se a história sexual<br />

de um homem oferece a chave de sua vi<strong>da</strong>, é porque na<br />

sexuali<strong>da</strong>de do homem projeta-se sua maneira de ser a respeito<br />

do mundo, quer dizer, a respeito do tempo e a respeito<br />

dos outros homens. Existem sintomas sexuais na origem de<br />

to<strong>da</strong>s as neuroses, mas esses sintomas, se os lemos bem, simbolizam<br />

to<strong>da</strong> uma atitude, seja por exemplo uma atitude de<br />

conquista, seja uma atitude de fuga. Na história sexual, concebi<strong>da</strong><br />

como a elaboração de uma forma geral de vi<strong>da</strong>, podem<br />

introduzir-se todos os motivos psicológicos, porque não<br />

há mais interferência de duas causali<strong>da</strong>des e porque a vi<strong>da</strong><br />

genital está engrena<strong>da</strong> na vi<strong>da</strong> total do sujeito. E não se trata<br />

tanto de saber se a vi<strong>da</strong> humana repousa ou não na sexuali<strong>da</strong>de,<br />

mas de saber o que se entende por sexuali<strong>da</strong>de. A psicanálise<br />

representa um duplo movimento de pensamento: por<br />

um lado, ela insiste na infra-estrutura sexual <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>; por outro,<br />

ela "incha" a noção de sexuali<strong>da</strong>de a ponto de integrar<br />

a ela to<strong>da</strong> a existência. Mas, justamente por essa razão, suas<br />

conclusões, como as de nosso parágrafo precedente, permanecem<br />

ambíguas. Quando se generaliza a noção de sexuali<strong>da</strong>de<br />

e se faz dela uma maneira de ser no mundo físico e interhumano,<br />

quer-se dizer, em última análise, que a existência<br />

inteira tem uma significação sexual, ou que todo fenômeno<br />

sexual tem uma significação existencial? Na primeira hipótese,<br />

a existência seria uma abstração, um outro nome para designar<br />

a vi<strong>da</strong> sexual. Mas como a vi<strong>da</strong> sexual não pode mais<br />

ser circunscrita, como ela não é mais uma função separa<strong>da</strong>

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