12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

84 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

sentir, ao contrário, investe a quali<strong>da</strong>de de um valor vital;<br />

primeiramente a apreende em sua significação para nós, para<br />

esta massa pesa<strong>da</strong> que é nosso corpo, e <strong>da</strong>í provém que<br />

ele sempre comporte uma referência ao corpo. O problema<br />

é compreender estas relações singulares que se tecem entre<br />

as partes <strong>da</strong> paisagem ou entre a paisagem e mim enquanto<br />

sujeito encarnado, e pelas quais um objeto percebido pode<br />

concentrar em si to<strong>da</strong> uma cena, ou tornar-se a imago de todo<br />

um segmento de vi<strong>da</strong>. O sentir é esta comunicação vital com<br />

o mundo que o torna presente para nós como lugar familiar<br />

de nossa vi<strong>da</strong>. E a ele que o objeto percebido e o sujeito que<br />

percebe devem sua espessura. Ele é o tecido intencional que<br />

o esforço de conhecimento procurará decompor. Com o problema<br />

do sentir, redescobrimos o <strong>da</strong> associação e <strong>da</strong> passivi<strong>da</strong>de.<br />

Elas deixaram de representar questão porque as filosofias<br />

clássicas se situavam abaixo ou acima delas, e lhes atribuíam<br />

tudo ou na<strong>da</strong>: ora a associação era entendi<strong>da</strong> como<br />

uma simples coexistência de fato, ora era deriva<strong>da</strong> de uma<br />

construção intelectual; ora a passivi<strong>da</strong>de era importa<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

coisas para o espírito, ora a análise reflexiva reencontrava nela<br />

uma ativi<strong>da</strong>de de entendimento. Ao contrário, essas noções<br />

adquirem seu sentido pleno se distinguimos o sentir <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de:<br />

agora a associação, ou, antes, a "afini<strong>da</strong>de" no sentido<br />

kantiano, é o fenômeno central <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> perceptiva, já<br />

que ela é a constituição, sem modelo ideal, de um conjunto<br />

significativo, e a distinção entre a vi<strong>da</strong> perceptiva e o conceito,<br />

entre a passivi<strong>da</strong>de e a espontanei<strong>da</strong>de, não é mais apaga<strong>da</strong><br />

pela análise reflexiva, já que o atomismo <strong>da</strong> sensação<br />

não mais nos obriga a procurar em uma ativi<strong>da</strong>de de ligação<br />

o princípio de to<strong>da</strong> coordenação. Enfim, depois do sentir, o<br />

próprio entendimento precisa ser novamente definido, já que<br />

a função geral de ligação que o kantismo finalmente lhe atribui<br />

é agora comum a to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> intencional e, logo, não é<br />

mais suficiente para designá-lo. Procuraremos mostrar na per-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!