12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 507<br />

personagens, "o homem de quarenta anos", se se trata de<br />

um amor tardio, "o viajante", se se trata de um amor exótico,<br />

"o viúvo", se o falso amor é produzido por uma recor<strong>da</strong>ção,<br />

"a criança", se ele é produzido pela recor<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> mãe.<br />

Um amor ver<strong>da</strong>deiro termina quando eu mudo ou quando<br />

a pessoa ama<strong>da</strong> mudou; um amor falso revela-se falso quando<br />

volto a mim. A diferença é intrínseca. Mas como ela concerne<br />

ao lugar do sentimento em meu ser no mundo total,<br />

como o falso amor diz respeito ao personagem que creio ser<br />

no momento em que o vivo, e como, para discernir sua falsi<strong>da</strong>de,<br />

eu precisaria de um conhecimento de mim mesmo que<br />

eu só obteria justamente pela desilusão, a ambigüi<strong>da</strong>de permanece<br />

e é por isso que a ilusão é possível. Consideremos<br />

novamente o exemplo do histérico. Rapi<strong>da</strong>mente ele foi tratado<br />

como um simulador, mas é antes de tudo a si mesmo<br />

que ele engana, e essa plastici<strong>da</strong>de coloca novamente o problema<br />

que se queria afastar: como o histérico pode não sentir<br />

aquilo que sente e sentir o que não sente? Ele não finge<br />

a dor, a tristeza, a cólera, e to<strong>da</strong>via suas "dores", suas "tristezas",<br />

suas "cóleras" distinguem-se de uma dor, de uma<br />

tristeza e de uma cólera "reais" porque ele não está nelas<br />

por inteiro; no centro dele mesmo, subsiste uma zona de calma.<br />

Os sentimentos ilusórios ou imaginários são vividos, mas,<br />

por assim dizer, com a periferia de nós mesmos 17 . A criança<br />

e muitos homens são dominados por "valores de situação"<br />

que lhes escondem seus sentimentos efetivos — contentes porque<br />

foram presenteados, tristes porque assistem a um enterro,<br />

alegres ou tristes de acordo com a paisagem e, para aquém<br />

desses sentimentos, indiferentes e vazios. "Nós sentimos o<br />

próprio sentimento, mas de uma maneira inautêntica. É como<br />

a sombra de um sentimento autêntico." Nossa atitude<br />

natural não é sentir nossos próprios sentimentos ou aderir a<br />

nossos próprios prazeres, mas viver segundo as categorias sentimentais<br />

do ambiente. "A jovem ama<strong>da</strong> não projeta seus sen-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!