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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 345<br />

mais tarde, em que o saber e, particularmente, a ciência ain<strong>da</strong><br />

não reduziram e nivelaram a perspectiva individual. É através<br />

dela, é por ela que devemos ter acesso a um mundo. Portanto,<br />

em primeiro lugar é preciso descrevê-la. Mais diretamente<br />

do que as outras dimensões do espaço, a profundi<strong>da</strong>de<br />

nos obriga a rejeitar o prejuízo do mundo e a reencontrar<br />

a experiência primordial onde ele brota; entre to<strong>da</strong>s as dimensões,<br />

ela é, por assim dizer, a mais "existencial", porque<br />

— é isso que há de ver<strong>da</strong>deiro no argumento de Berkeley<br />

— ela não se indica no próprio objeto, evidentemente ela<br />

pertence à perspectiva e não às coisas; portanto, ela não pode<br />

nem ser extraí<strong>da</strong> destas, nem ser posta nelas pela consciência;<br />

ela anuncia um certo elo indissolúvel entre as coisas<br />

e mim, pelo qual estou situado diante delas, enquanto a largura<br />

pode, à primeira vista, passar por uma relação entre as<br />

próprias coisas, em que o sujeito perceptivo não está implicado.<br />

Reencontrando a visão <strong>da</strong> profundi<strong>da</strong>de, quer dizer,<br />

uma profundi<strong>da</strong>de que ain<strong>da</strong> não está objetiva<strong>da</strong> e constituí<strong>da</strong><br />

de pontos exteriores uns aos outros, ultrapassaremos mais<br />

uma vez as alternativas clássicas e precisaremos a relação entre<br />

o sujeito e o objeto.<br />

Eis aqui minha mesa, mais adiante o piano ou a parede,<br />

ou ain<strong>da</strong> um automóvel parado diante de mim é posto em<br />

movimento e distancia-se. Que querem dizer essas expressões?<br />

Para despertar a experiência perceptiva, partamos do relato<br />

superficial que dela nos dá o pensamento obcecado pelo mundo<br />

e pelo objeto. Essas expressões, diz ele, significam que entre<br />

a mesa e mim existe um intervalo, entre o automóvel e mim<br />

existe um intervalo crescente que de onde estou não posso<br />

ver, mas que se indica a mim pela grandeza aparente do objeto.<br />

É a grandeza aparente <strong>da</strong> mesa, do piano e <strong>da</strong> parede<br />

que, compara<strong>da</strong> à sua grandeza real, os localiza no espaço.<br />

Quando o automóvel caminha lentamente para o horizonte<br />

perdendo sua estatura, construo, para <strong>da</strong>r conta dessa apa-

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