12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

288 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

üusão continua incompreensível. Precisamos colocar em questão<br />

a alternativa entre o para si e o em si, que rejeitava os<br />

"sentidos" no mundo dos objetos e resgatava a subjetivi<strong>da</strong>de<br />

como absoluto não-ser de to<strong>da</strong> inerência corporal. É isso<br />

que fazemos quando definimos a sensação como coexistência<br />

ou como comunhão. A sensação de azul não é o conhecimento<br />

ou a posição de um certo quale identificável através de to<strong>da</strong>s<br />

as experiências que tenho dele, assim como o círculo do<br />

geômetra é o mesmo em Paris e em Tóquio. Sem dúvi<strong>da</strong>, ela<br />

é intencional, quer dizer, não repousa em si como uma coisa,<br />

mas visa e significa para além de si mesma. Mas o termo<br />

que ela visa só é reconhecido cegamente pela familiari<strong>da</strong>de<br />

de meu corpo com ele, não é constituído em plena clareza,<br />

mas reconstituído ou retomado por um saber que permanece<br />

latente e que lhe deixa sua opaci<strong>da</strong>de e sua eccei<strong>da</strong>de. A sensação<br />

é intencional porque encontro no sensível a proposição<br />

de um certo ritmo de existência — abdução ou adução — e<br />

porque, <strong>da</strong>ndo seqüência a essa proposição, introduzindo-me<br />

na forma de existência que assim me é sugeri<strong>da</strong>, reporto-me<br />

a um ser exterior, seja para abrir-me seja para fechar-me a<br />

ele. Se as quali<strong>da</strong>des irradiam em torno de si um certo modo<br />

de existência, se elas têm um poder de encantamento e aquilo<br />

que há pouco chamávamos de um valor sacramentai, é porque<br />

o sujeito que sente não as põe como objetos, mas simpatiza<br />

com elas, as faz suas e encontra nelas a sua lei momentânea.<br />

Esclareçamos. Aquele que sente e o sensível não estão<br />

um diante do outro como dois termos exteriores, e a sensação<br />

não é uma invasão do sensível naquele que sente. É meu<br />

olhar que subtende a cor, é o movimento de minha mão que<br />

subtende a forma do objeto, ou antes meu olhar acopla-se à<br />

cor, minha mão acopla-se ao duro e ao mole, e nessa troca<br />

entre o sujeito <strong>da</strong> sensação e o sensível não se pode dizer que<br />

um aja e que o outro padeça, que um dê sentido ao outro.<br />

Sem a exploração de meu olhar ou de minha mão, e antes

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!