12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O CORPO 253<br />

vimento contínuo pelo qual ele se projeta nas coisas e para<br />

os outros. É por meu corpo que compreendo o outro, assim<br />

como é por meu corpo que percebo "coisas". Assim "compreendido",<br />

o sentido do gesto não está atrás dele, ele se confunde<br />

com a estrutura do mundo que o gesto desenha e que<br />

por minha conta eu retomo, ele se expõe no próprio gesto —<br />

assim como, na experiência perceptiva, a significação <strong>da</strong> chaminé<br />

não está para além do espetáculo sensível e <strong>da</strong> chaminé<br />

ela mesma, tal como meus olhares e meus movimentos a encontram<br />

no mundo.<br />

O gesto lingüístico, como todos os outros, desenha ele<br />

mesmo o seu sentido. Primeiramente essa idéia surpreende,<br />

mas somos obrigados a chegar a ela se queremos compreender<br />

a origem <strong>da</strong> linguagem, problema sempre urgente embora<br />

psicólogos e lingüistas concordem em recusá-lo em nome do<br />

saber positivo. Primeiramente parece impossível <strong>da</strong>r às palavras,<br />

assim como aos gestos, uma significação imanente, porque<br />

o gesto se limita a indicar uma certa relação entre o homem<br />

e o mundo sensível, porque esse mundo é <strong>da</strong>do ao espectador<br />

pela percepção natural, e porque assim o objeto intencional<br />

é oferecido à testemunha ao mesmo tempo em que<br />

o próprio gesto. A gesticulação verbal, ao contrário, visa uma<br />

paisagem mental que em primeiro lugar não está <strong>da</strong><strong>da</strong> a todos<br />

e que ela tem por função justamente comunicar. Mas,<br />

aqui, o que a natureza não dá a cultura o fornece. As significações<br />

disponíveis, quer dizer, os atos de expressão anteriores,<br />

estabelecem entre os sujeitos falantes um mundo comum<br />

ao qual a fala atual e nova se refere, assim como o gesto ao<br />

mundo sensível. E o sentido <strong>da</strong> fala é apenas o modo pelo<br />

qual ela maneja esse mundo lingüístico, ou pelo qual ela modula<br />

nesse teclado de significações adquiri<strong>da</strong>s. Eu o apreendo<br />

em um ato indiviso, tão breve quanto um grito. É ver<strong>da</strong>de<br />

que o problema só foi deslocado: essas próprias significações<br />

disponíveis, como elas se constituíram? Uma vez forma<strong>da</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!