12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

OS PREJUÍZOS CLÁSSICOS E O RETORNO AOS FENÔMENOS 49<br />

truir a figura deste mundo, a vi<strong>da</strong>, a percepção, o espírito,<br />

em lugar de reconhecer, como fonte inteiramente próxima e<br />

como última instância de nosso conhecimento a seu respeito,<br />

a experiência que temos dele. Essa conversão do olhar, que inverte<br />

as relações entre o claro e o obscuro, deve ser efetua<strong>da</strong><br />

por ca<strong>da</strong> um e é em segui<strong>da</strong> que ela se justifica pela abundância<br />

dos fenômenos que permite compreender. Mas antes<br />

dela eles eram inacessíveis, e à descrição que deles se faz o<br />

empirismo sempre pode objetar que ele não compreende. Neste<br />

sentido, a reflexão é um sistema de pensamentos tão fechado<br />

quanto a loucura, com a diferença de que ela se compreende<br />

a si mesma e ao louco, enquanto o louco não a compreende.<br />

Mas, se o campo fenomenal é um mundo novo, ele<br />

nunca é absolutamente ignorado pelo pensamento natural,<br />

ele lhe está presente no horizonte, e a própria doutrina empirista<br />

é uma tentativa de análise <strong>da</strong> consciência. A título de<br />

"paramythia", é útil então indicar tudo aquilo que as construções<br />

empiristas tornam incompreensível, e todos os fenômenos<br />

originais que elas mascaram. Elas nos escondem, primeiramente,<br />

o "mundo cultural" ou o "mundo humano",<br />

no qual to<strong>da</strong>via quase to<strong>da</strong> a nossa vi<strong>da</strong> se passa. Para a maior<br />

parte de nós, a natureza é apenas um ser vago e distante, sufocado<br />

pelas ci<strong>da</strong>des, pelas ruas, pelas casas, e sobretudo pela<br />

presença dos outros homens. Ora, para o empirismo, os<br />

objetos "culturais" e os rostos devem sua fisionomia, sua potência<br />

mágica, a transferências e a projeções de recor<strong>da</strong>ções;<br />

o mundo humano só tem sentido por acidente. Não há na<strong>da</strong><br />

no aspecto sensível de uma paisagem, de um objeto ou de<br />

um corpo que o predestine a ter um ar "alegre" ou "triste",<br />

"vivo" ou "morto", "elegante" ou "grosseiro". Definindo<br />

mais uma vez aquilo que percebemos pelas proprie<strong>da</strong>des físicas<br />

e químicas dos estímulos que podem agir em nossos aparelhos<br />

sensoriais, o empirismo exclui <strong>da</strong> percepção a cólera<br />

ou a dor que to<strong>da</strong>via eu leio em um rosto, a religião cuja es-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!