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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 547<br />

veria melodia. E to<strong>da</strong>via a mesa está ali com suas partes exteriores.<br />

A sucessão é essencial à melodia. O ato que reúne<br />

distancia e mantém à distância, eu só me toco me escapando.<br />

Em um pensamento célebre, Pascal mostra que sob um<br />

certo ponto de vista eu compreendo o mundo e que sob um<br />

outro ponto de vista ele me compreende. Deve-se dizer que<br />

é sob o mesmo ponto de vista: eu compreendo o mundo porque<br />

para mim existe o próximo e o distante, primeiros planos<br />

e horizontes, e porque assim o mundo se expõe e adquire<br />

um sentido diante de mim, que dizer, finalmente porque eu<br />

estou situado nele e porque ele me compreende. Nós não dizemos<br />

que a noção do mundo é inseparável <strong>da</strong> noção do sujeito,<br />

que o sujeito se pensa inseparável <strong>da</strong> idéia do corpo e <strong>da</strong><br />

idéia do mundo, pois, se só se tratasse de uma relação pensa<strong>da</strong>,<br />

por isso mesmo ela deixaria subsistir a independência absoluta<br />

do sujeito enquanto pensador e o sujeito não estaria<br />

situado. Se o sujeito está em situação, se até mesmo ele não<br />

é senão uma possibili<strong>da</strong>de de situações, é porque ele só realiza<br />

sua ipsei<strong>da</strong>de sendo efetivamente corpo e entrando, através<br />

desse corpo, no mundo. Se, refletindo na essência <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de,<br />

eu a encontro liga<strong>da</strong> à essência do corpo e à essência<br />

do mundo, é porque minha existência como subjetivi<strong>da</strong>de<br />

é uma e a mesma que minha existência como corpo e<br />

com a existência do mundo, e porque finalmente o sujeito que<br />

sou, concretamente tomado, é inseparável deste corpo-aqui<br />

e deste mundo-aqui. O mundo e o corpo ontológicos que reconhecemos<br />

no coração do sujeito não são o mundo em idéia<br />

ou o corpo em idéia, são o próprio mundo contraído em uma<br />

apreensão global, são o próprio corpo como corpo-cognoscente.<br />

Mas, dir-se-á, se a uni<strong>da</strong>de do mundo não está fun<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

na uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> consciência, se o mundo não é o resultado de<br />

um trabalho constitutivo, de onde provém que as aparências<br />

sejam concor<strong>da</strong>ntes e reúnam-se em coisas, em idéias, em ver-

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