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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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168 FENOMENOLQGIA DA PERCEPÇÃO<br />

são, deficiente nele, não basta para <strong>da</strong>r um fundo sólido ao<br />

movimento. Portanto, não há um fato que possa atestar, de<br />

maneira decisiva, que a experiência tátil dos doentes é ou não<br />

idêntica àquela dos normais, e a concepção de Goldstein, assim<br />

como a teoria física, sempre pode ser a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> aos fatos<br />

por meio de alguma hipótese auxiliar. Nenhuma interpretação<br />

rigorosamente exclusiva é possível nem em psicologia nem<br />

em física.<br />

To<strong>da</strong>via, se observarmos melhor, veremos que, em psicologia,<br />

a impossibili<strong>da</strong>de de uma experiência crucial fun<strong>da</strong>se<br />

em razões particulares, ela resulta <strong>da</strong> própria natureza do<br />

objeto a conhecer, quer dizer, do comportamento, ela tem<br />

conseqüências muito mais decisivas. Entre teorias <strong>da</strong>s quais<br />

nenhuma está absolutamente excluí<strong>da</strong>, nenhuma absolutamente<br />

fun<strong>da</strong><strong>da</strong> pelos fatos, a física pode ain<strong>da</strong> assim escolher<br />

segundo o grau de verossimilhança, quer dizer, segundo o<br />

número de fatos que ca<strong>da</strong> uma consegue coordenar sem<br />

sobrecarregar-se de hipóteses auxiliares imagina<strong>da</strong>s para as<br />

necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> causa. Em psicologia, carecemos desse critério:<br />

nenhuma hipótese auxiliar é necessária, acabamos de vêlo,<br />

para explicar pelo distúrbio visual a impossibili<strong>da</strong>de do<br />

gesto de "bater" diante de uma porta. Não apenas nunca<br />

chegamos a uma interpretação exclusiva — deficiência do tocar<br />

virtual ou deficiência do mundo visual •—, mas ain<strong>da</strong> li<strong>da</strong>mos<br />

necessariamente com interpretações igualmente verossímeis,<br />

porque "representações visuais", "movimento abstrato"<br />

e "tocar virtual" são apenas nomes diferentes para um<br />

mesmo fenômeno central. Dessa forma a psicologia não se<br />

encontra aqui na mesma situação que a física, quer dizer, confina<strong>da</strong><br />

na probabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s induções; ela é incapaz de escolher,<br />

mesmo segundo a verossimilhança, entre hipóteses que,<br />

do ponto de vista estritamente indutivo, permanecem to<strong>da</strong>via<br />

incompatíveis. Para que uma indução, mesmo simplesmente<br />

provável, permaneça possível, é preciso que a "repre-

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