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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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478 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

truam uma situação comum na qual elas se comuniquem, é<br />

a partir do fundo de sua subjetivi<strong>da</strong>de que ca<strong>da</strong> um projeta<br />

este mundo "único". As dificul<strong>da</strong>des <strong>da</strong> percepção de outrem<br />

não dependiam to<strong>da</strong>s do pensamento objetivo, elas não<br />

cessam to<strong>da</strong>s com a descoberta do comportamento, ou antes<br />

o pensamento objetivo e a uni<strong>da</strong>de do cogito, que é sua conseqüência,<br />

não são ficções, eles são fenômenos bem fun<strong>da</strong>dos<br />

e dos quais precisaremos investigar o fun<strong>da</strong>mento. O conflito<br />

entre mim e outrem não começa somente quando procuramos<br />

pensar outrem, e não desaparece se reintegramos o pensamento<br />

à consciência não-tética e à vi<strong>da</strong> irrefleti<strong>da</strong>: ele já<br />

está ali se procuro viver outrem, por exemplo na cegueira do<br />

sacrifício. Concluo um pacto com outrem, resolvi viver em<br />

um intermundo no qual dou tanto lugar ao outro quanto a<br />

mim mesmo. Mas esse intermundo é ain<strong>da</strong> um projeto meu,<br />

e haveria hipocrisia em acreditar que quero o bem de outrem<br />

assim como o meu, já que mesmo esse apego ao bem de outrem<br />

ain<strong>da</strong> vem de mim. Sem reciproci<strong>da</strong>de, não há alter Ego, já<br />

que agora o mundo de um envolve o do outro, e já que um<br />

se sente alienado em benefício do outro. É isso que acontece<br />

com um casal em que o amor não é igual dos dois lados: um<br />

se envolve nesse amor e nele põe em jogo sua vi<strong>da</strong>; o outro<br />

permanece livre, para ele esse amor é apenas uma maneira<br />

contingente de viver. O primeiro sente seu ser e sua substância<br />

dissiparem-se nesta liber<strong>da</strong>de que permanece inteira diante<br />

dele. E mesmo se o segundo, por fideli<strong>da</strong>de às promessas ou<br />

por generosi<strong>da</strong>de, quer por sua vez reduzir-se à categoria de<br />

simples fenômeno no mundo do primeiro, ver-se pelos olhos<br />

de outrem, é ain<strong>da</strong> por uma dilatação de sua própria vi<strong>da</strong><br />

que ele chega a isso, e portanto ele nega em hipótese a equivalência<br />

entre outrem e si mesmo que desejaria afirmar em<br />

tese. Em qualquer caso, a coexistência deve ser vivi<strong>da</strong> por<br />

ca<strong>da</strong> um. Se nem um nem outro somos consciências constituintes,<br />

no momento em que vamos nos comunicar e encon-

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