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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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OS PREJUÍZOS CLÁSSICOS E O RETORNO AOS FENÔMENOS 55<br />

tência, os únicos objetos dos quais se pode falar são os <strong>da</strong> consciência<br />

desperta. Sempre temos conosco um princípio constante<br />

de distração e de vertigem que é nosso corpo. Mas nosso<br />

corpo não tem o poder de fazer-nos ver aquilo que não existe;<br />

ele pode apenas fazer-nos crer que nós o vemos. A lua no<br />

horizonte não é e não é vista maior do que no zênite: se a<br />

olharmos atentamente, por exemplo através de um tubo de<br />

cartolina ou de uma luneta, veremos que seu diâmetro aparente<br />

permanece constante 2 . A percepção distraí<strong>da</strong> na<strong>da</strong> contém<br />

a mais e nem mesmo na<strong>da</strong> de outro do que a percepção<br />

atenta. Assim, a filosofia não precisa considerar uma ilusão<br />

<strong>da</strong> aparência. A consciência pura e desembaraça<strong>da</strong> de todos<br />

os obstáculos que ela consentia em se criar, o mundo ver<strong>da</strong>deiro<br />

sem nenhuma mistura de devaneio estão à disposição<br />

de ca<strong>da</strong> um. Não precisamos analisar o ato de atenção como<br />

passagem <strong>da</strong> confusão à clareza, porque a confusão não é na<strong>da</strong>.<br />

A consciência só começa a ser determinando um objeto,<br />

e mesmo os fantasmas de uma "experiência interna" só são<br />

possíveis por empréstimo à experiência externa. Portanto, não<br />

há vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong> <strong>da</strong> consciência, e a consciência só tem como<br />

obstáculo o caos, que não é na<strong>da</strong>. Mas em uma consciência<br />

que constitui tudo, ou, antes, que possui eternamente a estrutura<br />

inteligível de todos os seus objetos, assim como na<br />

consciência empirista que não constitui na<strong>da</strong>, a atenção permanece<br />

um poder abstrato, ineficaz, porque ali ela não tem<br />

na<strong>da</strong> para fazer. A consciência não está menos intimamente<br />

liga<strong>da</strong> aos objetos em relação aos quais ela se distrai do que<br />

àqueles aos quais ela se volta, e o excedente de clareza do ato<br />

de atenção não inaugura nenhuma relação nova. Ele volta<br />

a ser então uma luz que não se diversifica com os objetos que<br />

ilumina, e mais uma vez se substituem "os modos e as direções<br />

específicas <strong>da</strong> intenção" 3 por atos vazios <strong>da</strong> atenção.<br />

Enfim, o ato de atenção é incondicionado, porque ele tem todos<br />

os objetos indiferentemente à sua disposição, como o era

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