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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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248 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

tão porque a fala ou as palavras trazem uma primeira cama<strong>da</strong><br />

de significação que lhes é aderente e que oferece o pensamento<br />

enquanto estilo, enquanto valor afetivo, enquanto mímica<br />

existencial antes que como enunciado conceituai. Descobrimos<br />

aqui, sob a significação conceituai <strong>da</strong>s falas, uma<br />

significação existencial que não é apenas traduzi<strong>da</strong> por elas,<br />

mas que as habita e é inseparável delas. O maior benefício<br />

<strong>da</strong> expressão não é consignar em um escrito pensamentos que<br />

poderiam perder-se, um escritor quase não relê suas próprias<br />

obras, e as grandes obras depositam em nós, na primeira leitura,<br />

tudo aquilo que a seguir extrairemos delas. A operação<br />

de expressão, quando é bem-sucedi<strong>da</strong>, não deixa apenas um<br />

sumário para o leitor ou para o próprio escritor, ela faz a significação<br />

existir como uma coisa no próprio coração do texto,<br />

ela a faz viver em um organismo de palavras, ela a instala<br />

no escritor ou no leitor como um novo órgão dos sentidos,<br />

abre para nossa experiência um novo campo ou uma nova<br />

dimensão. Essa potência <strong>da</strong> expressão é bem conheci<strong>da</strong> na<br />

arte e, por exemplo, na música. A significação musical <strong>da</strong><br />

sonata é inseparável dos sons que a conduzem: antes que a<br />

tenhamos ouvido, nenhuma análise permite-nos adivinhá-la;<br />

uma vez termina<strong>da</strong> a execução, só poderemos, em nossas análises<br />

intelectuais <strong>da</strong> música, reportar-nos ao momento <strong>da</strong> experiência;<br />

durante a execução, os sons não são apenas os "signos"<br />

<strong>da</strong> sonata, mas ela está ali através deles, ela irrompe<br />

neles". Da mesma maneira, a atriz torna-se invisível, e é Fedra<br />

quem aparece. A significação devora os signos e Fedra<br />

tomou posse <strong>da</strong> Berma tão bem, que seu êxtase em Fedra nos<br />

parece ser o máximo do natural e <strong>da</strong> facili<strong>da</strong>de 12 . A expressão<br />

estética confere a existência em si àquilo que exprime,<br />

instala-o na natureza como uma coisa percebi<strong>da</strong> acessível a<br />

todos ou, inversamente, arranca os próprios signos — a pessoa<br />

do ator, as cores e a tela do pintor — de sua existência<br />

empírica e os arrebata para um outro mundo. Ninguém con-

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