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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O CORPO 191<br />

vez por um certo "lado", que em ca<strong>da</strong> caso certos sintomas<br />

sejam predominantes no quadro clínico <strong>da</strong> doença, e enfim<br />

que a consciência seja vulnerável e que possa receber a doença<br />

em si mesma. Acometendo a "esfera visual", a doença<br />

não se limita a destruir certos conteúdos de consciência, as<br />

"representações visuais" ou a visão no sentido próprio; ela<br />

atinge uma visão no sentido figurado, <strong>da</strong> qual a primeira é<br />

o modelo ou o emblema — o poder de "dominar" (überschauen)<br />

as multiplici<strong>da</strong>des simultâneas 92 , uma certa maneira de pôr<br />

o objeto ou de ter consciência. Mas como esse tipo de consciência<br />

é apenas a sublimação <strong>da</strong> visão sensível, como a ca<strong>da</strong><br />

momento ele se esquematiza nas dimensões do campo visual,<br />

sobrecarregando-as, é certo, com um sentido novo, compreende-se<br />

que essa função geral tenha suas raízes psicológicas.<br />

A consciência desenvolve livremente os <strong>da</strong>dos visuais para<br />

além de seu sentido próprio, ela se serve deles para exprimir<br />

seus atos de espontanei<strong>da</strong>de, como o mostra suficientemente<br />

a evolução semântica que atribui um sentido ca<strong>da</strong> vez mais<br />

rico aos termos intuição, evidência ou luz natural. Mas, reciprocamente,<br />

não há um só desses termos, no sentido final<br />

que a história lhes atribuiu, que se compreen<strong>da</strong> sem referência<br />

às estruturas <strong>da</strong> percepção visual. Dessa forma não se pode<br />

dizer que o homem vê porque é Espírito, nem tampouco<br />

que é Espírito porque vê: ver como um homem vê e ser Espírito<br />

são sinônimos. Na medi<strong>da</strong> em que a consciência só é consciência<br />

de algo arrastando atrás de si seu rasto, e em que,<br />

para pensar um objeto, é preciso apoiar-se em um "mundo<br />

de pensamento" precedentemente construído, há sempre uma<br />

despersonalização no interior <strong>da</strong> consciência; por aqui está<br />

<strong>da</strong>do o princípio de uma intervenção alheia: a consciência pode<br />

ficar doente, o mundo de seus pensamentos pode desmoronar<br />

em fragmentos — ou antes, como os "conteúdos" dissociados<br />

pela doença não figuravam na consciência normal<br />

a título de partes, e só serviam de apoios a significações que

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