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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O CORPO 241<br />

a palavra continua a ser um invólucro vazio. Ela é apenas<br />

um fenômeno articular, sonoro, ou a consciência desse fenômeno,<br />

mas em qualquer caso a linguagem é apenas um acompanhamento<br />

exterior do pensamento. Na primeira concepção,<br />

estamos aquém <strong>da</strong> palavra enquanto significativa; na segun<strong>da</strong>,<br />

estamos além — na primeira, não há ninguém que<br />

fale; na segun<strong>da</strong>, há um sujeito, mas ele não é o sujeito falante,<br />

é o sujeito pensante. No que concerne à própria fala,<br />

o intelectualismo mal difere do empirismo e não pode, tanto<br />

quanto este, dispensar-se de uma explicação pelo automatismo.<br />

Uma vez feita a operação categorial, resta explicar a aparição<br />

<strong>da</strong> palavra que a conclui, e é mais uma vez por um mecanismo<br />

fisiológico ou psíquico que se fará isso, já que a palavra<br />

é um invólucro inerte. Portanto, ultrapassa-se tanto o<br />

intelectualismo quanto o empirismo pela simples observação<br />

de que a palavra tem um sentido.<br />

Se a fala pressupusesse o pensamento, se falar fosse em<br />

primeiro lugar unir-se ao objeto por uma intenção de conhecimento<br />

ou por uma representação, não se compreenderia por<br />

que o pensamento tende para a expressão como para seu acabamento,<br />

por que o objeto mais familiar parece-nos indeterminado<br />

enquanto não encontramos seu nome, por que o próprio<br />

sujeito pensante está em um tipo de ignorância de seus<br />

pensamentos enquanto não os formulou para si ou mesmo<br />

disse e escreveu, como o mostra o exemplo de tantos escritores<br />

que começam um livro sem saber exatamente o que nele<br />

colocarão. Um pensamento que se contentasse em existir para<br />

si, fora dos incômodos <strong>da</strong> fala e <strong>da</strong> comunicação, logo que<br />

aparecesse cairia na inconsciência, o que significa dizer que<br />

ele nem mesmo existiria para si. A famosa questão de Kant,<br />

podemos responder que pensar é com efeito uma experiência,<br />

no sentido em que nós nos <strong>da</strong>mos nosso pensamento pela<br />

fala interior ou exterior. Ele progride no instante e como<br />

que por fulgurações, mas em segui<strong>da</strong> é preciso que nos apro-

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