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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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554 FENOMENQLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

menos que sobre mçu passado eu tenha uma outra visão que<br />

me permita reconhecê-la como recor<strong>da</strong>ção, o que é contra a<br />

hipótese. Se agora substituímos o traço fisiológico por um<br />

"traço psíquico", se nossas percepções permanecem em um<br />

inconsciente, a dificul<strong>da</strong>de será a mesma: uma percepção conserva<strong>da</strong><br />

é uma percepção, ela continua a existir, ela está sempre<br />

no presente, ela não abre atrás de nós essa dimensão de<br />

fuga e de ausência que é o passado; um fragmento conservado<br />

do passado vivido no máximo só pode ser uma ocasião de<br />

pensar no passado, não é este que se faz reconhecer; o reconhecimento,<br />

quando se quer derivá-lo de qualquer conteúdo<br />

que seja, sempre se precede a si mesmo. A reprodução pressupõe<br />

a recognição, ela só pode ser compreendi<strong>da</strong> enquanto<br />

tal se primeiramente tenho uma espécie de contato direto com<br />

o passado em seu lugar. Com mais razão ain<strong>da</strong>, não se pode<br />

construir o porvir com conteúdos de consciência: nenhum conteúdo<br />

efetivo pode passar, mesmo ao preço de um equívoco,<br />

por um testemunho sobre o porvir, já que o porvir nem mesmo<br />

foi e não pode, como o passado, colocar em nós a sua marca.<br />

Portanto, só se poderia pensar em explicar a relação do<br />

porvir ao presente assimilando-a à relação do presente ao passado.<br />

Considerando a longa série de meus estados passados,<br />

vejo que meu presente sempre passa, posso antecipar essa passagem,<br />

tratar meu passado próximo como distante, meu presente<br />

efetivo como passado: o porvir é este vazio que agora<br />

se forma adiante de meu presente. A prospecção seria na reali<strong>da</strong>de<br />

uma retrospecção e o porvir uma projeção do passado.<br />

Mas, mesmo se, por uma circunstância improvável, eu<br />

pudesse construir a consciência do passado com presentes de<br />

destinação altera<strong>da</strong>, seguramente eles não poderiam abrir-me<br />

um porvir. Mesmo se, de fato, nós nos representamos o porvir<br />

com o auxílio <strong>da</strong>quilo que já vimos, novamente é ver<strong>da</strong>de<br />

que, para pro-jetar o porvir diante de nós, primeiramente é<br />

preciso que tenhamos o sentido do porvir. Se a prospecção

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