12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 511<br />

tênticos? Definir o sujeito pela existência, quer dizer, por um<br />

movimento em que ele se ultrapassa, não é ao mesmo tempo<br />

consagrá-lo à ilusão, já que ele nunca poderá ser na<strong>da</strong>? Por<br />

não termos definido, na consciência, a reali<strong>da</strong>de pela aparência,<br />

não rompemos os elos entre nós e nós mesmos e não reduzimos<br />

a consciência à condição de simples aparência de uma<br />

reali<strong>da</strong>de inapreensível? Não estamos diante <strong>da</strong> alternativa<br />

de uma» consciência absoluta ou de uma dúvi<strong>da</strong> interminável?<br />

E, rejeitando a primeira solução, nós não tornamos o Cogito<br />

impossível? A objeção nos faz chegar ao ponto essencial.<br />

Não é ver<strong>da</strong>de que minha existência se possua e também não<br />

é ver<strong>da</strong>de que ela seja estranha a si mesma, porque ela é um<br />

ato ou um fazer, e porque um ato, por definição, é a passagem<br />

violenta <strong>da</strong>quilo que tenho àquilo que viso, <strong>da</strong>quilo que<br />

sou àquilo que tenho a intenção de ser. Posso efetuar o Cogito<br />

e ter a segurança de deveras querer, amar ou crer, sob a condição<br />

de que primeiramente eu efetivamente queira, ame ou<br />

creia, e de que eu realize minha própria existência. Se eu não<br />

o fizesse, uma dúvi<strong>da</strong> invencível se estenderia sobre o mundo,<br />

mas também sobre meus próprios pensamentos. Eu me<br />

perguntaria sem parar se meus "gostos", minhas "vontades",<br />

minhas "resoluções", minhas "aventuras" são ver<strong>da</strong>deiramente<br />

meus, eles sempre me pareceriam factícios, irreais e<br />

falhos. Mas esta própria dúvi<strong>da</strong>, por não ser dúvi<strong>da</strong> efetiva,<br />

não poderia mais chegar nem mesmo à certeza de duvi<strong>da</strong>r 20 .<br />

Só se sai <strong>da</strong>li, só se chega à "sinceri<strong>da</strong>de" prevenindo esses<br />

escrúpulos e lançando-se com os olhos fechados no "fazer".<br />

Assim, não é porque eu penso ser que estou certo de existir,<br />

mas, ao contrário, a certeza que tenho de meus pensamentos<br />

deriva de sua existência efetiva. Meu amor, minha raiva, minha<br />

vontade não são certos enquanto simples pensamentos<br />

de amar, de odiar ou de querer, mas, ao contrário, to<strong>da</strong> a<br />

certeza desses pensamentos provém <strong>da</strong> certeza dos atos de<br />

amor, de raiva ou de vontade, dos quais estou seguro porque

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!