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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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534 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

Em suma, nós restituímos ao Cogito uma espessura temporal.<br />

Se não existe dúvi<strong>da</strong> interminável e se "eu penso",<br />

é porque me lanço em pensamentos provisórios e porque de<br />

fato domino as descontinui<strong>da</strong>des do tempo. Assim, a visão<br />

se perde em uma coisa vista que a precede e que lhe sobrevive.<br />

Saímos do embaraço? Admitimos que a certeza <strong>da</strong> visão<br />

e a certeza <strong>da</strong> coisa vista são solidárias; seria preciso concluir<br />

<strong>da</strong>qui que, a coisa vista nunca sendo absolutamente certa,<br />

como se vê pelas ilusões, a visão é arrasta<strong>da</strong> nessa incerteza<br />

— ou ao contrário que, a visão sendo em si absolutamente<br />

certa, a coisa vista também o é e que eu nunca deveras me<br />

engano? A segun<strong>da</strong> solução representaria restabelecer a imanência<br />

que afastamos. Mas, se adotássemos a primeira, o pensamento<br />

estaria cortado de si mesmo, só haveria "fatos de<br />

consciência'' que se poderia chamar de interiores por definição<br />

nominal, mas que para mim seriam tão opacos quanto<br />

as coisas, não haveria mais nem interiori<strong>da</strong>de, nem consciência,<br />

e mais uma vez a experiência do Cogito seria esqueci<strong>da</strong>.<br />

Quando descrevemos a consciência envolvi<strong>da</strong> por seu corpo<br />

em um espaço, por sua linguagem em uma história, por seus<br />

prejuízos em uma forma concreta de pensamento, não se trata<br />

de recolocá-la na série dos acontecimentos objetivos, mesmo<br />

se se trata de acontecimentos "psíquicos", e na causali<strong>da</strong>de<br />

do mundo. Aquele que duvi<strong>da</strong> não pode, duvi<strong>da</strong>ndo, duvi<strong>da</strong>r<br />

que duvi<strong>da</strong>. A dúvi<strong>da</strong>, mesmo generaliza<strong>da</strong>, não é uma<br />

anulação de meu pensamento ela é um pseudona<strong>da</strong>, eu não<br />

posso sair do ser, meu próprio ato de duvi<strong>da</strong>r estabelece a<br />

possibili<strong>da</strong>de de uma certeza, para mim ele está ali, ele me<br />

ocupa, estou envolvido nele, não posso fingir não ser na<strong>da</strong><br />

no momento em que o realizo. A reflexão, que distancia to<strong>da</strong>s<br />

as coisas, manifesta-se pelo menos como <strong>da</strong><strong>da</strong> a si mesma,<br />

no sentido em que ela não pode pensar-se suprimi<strong>da</strong>,<br />

manter-se à distância de si mesma. Mas isso não quer dizer<br />

que a reflexão, o pensamento, sejam fatos primitivos simples-

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