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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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518 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

te, o movimento corporal só é movimento enquanto ela o pensa<br />

como tal 26 ; a potência construtiva só encontra nele aquilo<br />

que ali ela colocou, e, em relação a ela, o corpo não é nem<br />

mesmo um instrumento: ele é um objeto entre os objetos. Não<br />

há psicologia em uma filosofia <strong>da</strong> consciência constituinte,<br />

ou pelo menos não lhe resta mais na<strong>da</strong> de válido a dizer, ela<br />

só pode aplicar os resultados <strong>da</strong> análise reflexiva a ca<strong>da</strong> conteúdo<br />

particular, falseando-os, aliás, já que ela lhes subtrai<br />

sua significação transcendental. O movimento do corpo só<br />

pode desempenhar um papel na percepção do mundo se ele<br />

próprio é uma intencionali<strong>da</strong>de original, uma maneira de se<br />

relacionar ao objeto distinta do conhecimento. E preciso que<br />

o mundo esteja, em torno de nós, não como um sistema de<br />

objetos dos quais fazemos a síntese, mas como um conjunto<br />

aberto de coisas em direção às quais nós nos projetamos. O<br />

"movimento gerador do espaço" não desdobra a trejetória<br />

de algum ponto metafísico sem lugar no mundo, mas de um<br />

certo aqui em direção a um certo ali, aliás por princípio substituíveis.<br />

O projeto de movimento é um ato, quer dizer, ele<br />

traça a distância espaço-temporal atravessando-a. O pensamento<br />

do geômetra, na medi<strong>da</strong> em que necessariamente se<br />

apoia nesse ato, não coincide então consigo mesmo: ele é a<br />

própria transcendência. Se posso, por meio de uma construção,<br />

fazer aparecer as proprie<strong>da</strong>des do triângulo, se a figura<br />

assim transforma<strong>da</strong> não deixa de ser a mesma figura <strong>da</strong> qual<br />

eu parti, e se enfim posso operar uma síntese que conserva<br />

o caráter <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de, não é que minha construção esteja<br />

subtendi<strong>da</strong> por um conceito do triângulo em que to<strong>da</strong>s as proprie<strong>da</strong>des<br />

estariam incluí<strong>da</strong>s, e que, saído <strong>da</strong> consciência perceptiva,<br />

eu chegue ao eidos: é que eu efetuo a síntese <strong>da</strong> nova<br />

proprie<strong>da</strong>de por meio do corpo, que de um só golpe me insere<br />

no espaço, e cujo movimento autônomo me permite alcançar,<br />

por uma série de passos precisos, esta visão global do espaço.<br />

Longe de que o pensamento geométrico transcen<strong>da</strong> a

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