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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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72 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

horizonte ou como fio condutor <strong>da</strong> análise reflexiva. A dúvi<strong>da</strong><br />

interrompeu as afirmações explícitas sobre o mundo, mas<br />

ela não mu<strong>da</strong> na<strong>da</strong> nesta sur<strong>da</strong> presença do mundo que se<br />

sublima no ideal <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de absoluta. Agora a reflexão fixa<br />

uma essência <strong>da</strong> consciência que se aceita dogmaticamente,<br />

sem se perguntar o que é uma essência, nem se a essência<br />

do pensamento esgota o fato do pensamento. Ela perde o caráter<br />

de uma constatação e doravante não se pode tratar de<br />

descrever fenômenos: a aparência perceptiva <strong>da</strong>s ilusões é recusa<strong>da</strong><br />

como a ilusão <strong>da</strong>s ilusões, só se pode ver aquilo que<br />

existe, a própria visão e a experiência não são mais distingui<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong> concepção. Daí uma filosofia em parte dupla, notável<br />

em to<strong>da</strong> doutrina do entendimento: salta-se de uma visão<br />

naturalista, que exprime nossa condição de fato, a uma<br />

dimensão transcendental em que to<strong>da</strong>s as servidões estão revoga<strong>da</strong>s<br />

de direito, e nunca se precisa perguntar-se como o<br />

mesmo sujeito é parte do mundo e princípio do mundo, porque<br />

o constituído é sempre para o constituinte. Na reali<strong>da</strong>de,<br />

a imagem de um mundo constituído em que eu seria, com<br />

meu corpo, apenas um objeto entre outros e a idéia de uma<br />

consciência constituinte absoluta só aparentemente formam<br />

antítese: elas exprimem duas vezes o prejuízo de um universo<br />

em si perfeitamente explícito. Uma reflexão autêntica, em<br />

lugar de fazê-las alternar como sendo ambas ver<strong>da</strong>deiras à<br />

maneira <strong>da</strong> filosofia de entendimento, rejeita-as a ambas como<br />

falsas.<br />

E ver<strong>da</strong>de que talvez nós desfiguramos uma segun<strong>da</strong> vez<br />

o intelectualismo. Quando dizemos que a análise reflexiva realiza,<br />

por antecipação, todo o saber possível acima do saber<br />

atual, encerra a reflexão em seus resultados e anula o fenômeno<br />

<strong>da</strong> finitude, talvez isso ain<strong>da</strong> seja uma caricatura do<br />

intelectualismo, a reflexão segundo o mundo, a ver<strong>da</strong>de vista<br />

pelo prisioneiro <strong>da</strong> caverna que prefere as sombras às quais<br />

está acostumado e não compreende que elas derivam <strong>da</strong> luz.

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