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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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74- FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

<strong>da</strong>de e a uma locali<strong>da</strong>de. A reflexão não é absolutamente<br />

transparente para si mesma, ela é sempre <strong>da</strong><strong>da</strong> para si mesma<br />

em uma experiência, no sentido <strong>da</strong> palavra que será o sentido<br />

kantiano, ela sempre brota sem saber ela mesma de onde<br />

brota, e sempre se oferece a mim como um dom <strong>da</strong> natureza.<br />

Mas se a descrição do irrefletido permanece váli<strong>da</strong> depois<br />

<strong>da</strong> reflexão, e a VI Meditação depois <strong>da</strong> segun<strong>da</strong>, reciprocamente<br />

esse próprio irrefletido só nos é conhecido pela<br />

reflexão, e não deve ser posto fora dela como um termo incognoscível.<br />

Entre mim, que analiso a percepção, e o eu que<br />

percebe, há sempre uma distância. Mas, no ato concreto de<br />

reflexão, eu transponho essa distância, provo pelo fato que<br />

sou capaz de saber aquilo que eu percebia, domino praticamente<br />

a descontinui<strong>da</strong>de dos dois Eus, e finalmente o cogito teria por<br />

sentido não revelar um constituinte universal ou reconduzir<br />

a percepção à intelecção, mas constatar este fato <strong>da</strong> reflexão,<br />

que ao mesmo tempo domina e mantém a opaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> percepção.<br />

É próprio <strong>da</strong> resolução cartesiana identificar assim<br />

a razão e a condição humana, e pode-se sustentar que a significação<br />

última do cartesianismo está ali. O "juízo natural"<br />

do intelectuahsmo antecipa agora aquele juízo kantiano que<br />

faz nascer no objeto individual o seu sentido, e não o fornece<br />

inteiramente feito 37 . O cartesianismo, assim como o kantismo,<br />

teria visto plenamente o problema <strong>da</strong> percepção, que consiste<br />

em que ela é um conhecimento originário. Há uma percepção<br />

empírica ou segun<strong>da</strong>, aquela que exercemos a ca<strong>da</strong><br />

instante, que nos mascara este fenômeno fun<strong>da</strong>mental porque<br />

ela é inteiramente plena de aquisições antigas e opera,<br />

por assim dizer, na superfície do ser. Quando olho rapi<strong>da</strong>mente<br />

os objetos que me circun<strong>da</strong>m para me situar e orientarme<br />

entre eles, mal tenho acesso ao aspecto instantâneo do<br />

mundo, identifico aqui a porta, ali a janela, mais adiante a<br />

minha mesa, que são apenas os suportes e os guias de uma<br />

intenção prática orienta<strong>da</strong> em outra direção, e que agora só

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