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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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224 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

a rejeita expressamente. Ela visa uma região de nossa experiência,<br />

uma certa categoria, um certo tipo de recor<strong>da</strong>ções.<br />

O paciente que esqueceu em uma gaveta um livro que sua<br />

mulher lhe dera de presente e que o encontra uma vez reconciliado<br />

com ela 9 absolutamente não perdera o livro, mas também<br />

não sabia onde ele se encontrava. Tudo o que dizia respeito<br />

à sua mulher não existia mais para ele, ele o riscara de<br />

sua vi<strong>da</strong>; ele descartara, de um só golpe, to<strong>da</strong>s as condutas<br />

que se relacionavam a ela e, assim, estava aquém do saber<br />

e <strong>da</strong> ignorância, <strong>da</strong> afirmação e <strong>da</strong> negação voluntárias. Assim,<br />

na histeria e no recalque podemos ignorar algo ao mesmo<br />

tempo em que o sabemos, porque nossas recor<strong>da</strong>ções e<br />

nosso corpo, em lugar de se apresentarem a nós em atos de<br />

consciência singulares e determinados, dissimulam-se na generali<strong>da</strong>de.<br />

Através dela, nós as "temos" ain<strong>da</strong>, mas apenas<br />

o suficiente para mantê-las longe de nós. Descobrimos através<br />

disso que as mensagens sensoriais ou as recor<strong>da</strong>ções só<br />

são apreendi<strong>da</strong>s expressamente e por nós conheci<strong>da</strong>s sob a<br />

condição de uma adesão geral à zona de nosso corpo e de nossa<br />

vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> qual elas dependem. Essa adesão ou essa recusa situam<br />

o sujeito em uma situação defini<strong>da</strong>, e delimitam para<br />

ele o campo mental imediatamente disponível, assim como<br />

a aquisição ou a per<strong>da</strong> de um órgão sensorial dá ou subtrai<br />

um objeto do campo físico às suas capturas diretas. Não se<br />

pode dizer que a situação de fato assim cria<strong>da</strong> seja a simples<br />

consciência de uma situação, pois isso representaria dizer que<br />

a recor<strong>da</strong>ção, o braço ou a perna "esquecidos" estão expostos<br />

à minha consciência, estão presentes e próximos para mim<br />

do mesmo modo que as regiões "conserva<strong>da</strong>s" de meu passado<br />

ou de meu corpo. Também não se pode dizer que a afonia<br />

é deseja<strong>da</strong>. A vontade supõe um campo de possíveis entre<br />

os quais escolho: eis Pedro, eu posso falar com ele ou não<br />

lhe dirigir a palavra. Ao contrário, se me torno afônico, Pedro<br />

não mais existe para mim enquanto interlocutor deseja-

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