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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 383<br />

existência. Quando sonho que vôo ou que caio, todo o sentido<br />

desse sonho está contido nesse vôo ou nessa que<strong>da</strong>, se eu<br />

não os reduzo à sua aparência física no mundo <strong>da</strong> vigília, e<br />

se os considero com to<strong>da</strong>s as suas implicações existenciais.<br />

O pássaro que plana, cai e torna-se um punhado de cinzas<br />

não plana e não cai no espaço físico, ele se eleva e se abaixa<br />

com a maré existencial que o atravessa, ou ain<strong>da</strong> ele é a pulsação<br />

de minha existência, sua sístole e sua diástole. O nível<br />

dessa maré determina em ca<strong>da</strong> momento um espaço de fantasmas<br />

assim como, na vi<strong>da</strong> desperta, nosso comércio com<br />

o mundo que se apresenta determina um espaço de reali<strong>da</strong>des.<br />

Há uma determinação do alto e do baixo e, em geral,<br />

do lugar, que precede a "percepção". A vi<strong>da</strong> e a sexuali<strong>da</strong>de<br />

freqüentam seu mundo e seu espaço. Os primitivos, na<br />

medi<strong>da</strong> em que vivem no mito, não ultrapassam esse espaço<br />

existencial, e é por isso que para eles os sonhos contam tanto<br />

quanto as percepções. Há um espaço mítico em que as direções<br />

e as posições são determina<strong>da</strong>s pela residência de grandes<br />

enti<strong>da</strong>des afetivas. Para um primitivo, saber onde se encontra<br />

o acampamento do clã não é situá-lo em relação a algum<br />

objeto referencial: ele é o referencial de todos os referenciais<br />

— é dirigir-se para ele como para o lugar natural de<br />

uma certa paz ou de uma certa alegria, assim como, para<br />

mim, saber onde está minha mão é reunir-me a essa potência<br />

ágil que no momento cochila, mas que posso assumir e<br />

reencontrar como minha. Para o augúrio, a direita e a esquer<strong>da</strong><br />

são as fontes de onde provêm o fausto e o nefasto,<br />

assim como para mim minha mão direita e minha mão esquer<strong>da</strong><br />

são a Encarnação de minha destreza e de minha inabili<strong>da</strong>de.<br />

No sonho, assim como no mito, aprendemos onde<br />

se encontra o fenômeno sentindo para o que caminha nosso<br />

desejo, o que nosso coração teme, de que depende nossa vi<strong>da</strong>.<br />

Mesmo na vi<strong>da</strong> desperta não ocorre diferentemente. Chego<br />

a uma aldeia para as férias, feliz por abandonar meus tra-

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