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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 469<br />

municam não está mais exposto diante de mim e percorrido<br />

por uma consciência constituinte. Eu tenho o mundo como indivíduo<br />

inacabado através de meu corpo enquanto potência<br />

desse mundo, e tenho a posição dos objetos por aquela de meu<br />

corpo ou, inversamente, a posição de meu corpo por aquela<br />

dos objetos, não em uma implicação lógica e como se determina<br />

uma grandeza desconheci<strong>da</strong> por suas relações objetivas<br />

com grandezas <strong>da</strong><strong>da</strong>s, mas em uma implicação real, e porque<br />

meu corpo é movimento em direção ao mundo, o mundo,<br />

ponto de apoio de meu corpo. O ideal do pensamento<br />

objetivo — o sistema <strong>da</strong> experiência como feixe de correlações<br />

físico-matemáticas — está fun<strong>da</strong>do em minha percepção<br />

do mundo como indivíduo em concordância consigo mesmo,<br />

e quando a ciência busca integrar meu corpo às relações<br />

do mundo objetivo é porque ela procura, à sua maneira, traduzir<br />

a sutura entre meu corpo fenomenal e o mundo primordial.<br />

Ao mesmo tempo em que o corpo se retira do mundo<br />

objetivo e vem formar, entre o puro sujeito e o objeto, um<br />

terceiro gênero de ser, o sujeito perde sua pureza e sua transparência.<br />

Objetos estão diante de mim, eles desenham em minha<br />

retina uma certa projeção deles mesmos e eu os percebo.<br />

Não se poderá mais tratar de isolar, em minha representação<br />

fisiológica do fenômeno, as imagens retinianas e seu correspondente<br />

cerebral do campo total, atual e virtual, no qual<br />

eles aparecem. O acontecimento fisiológico é apenas o esboço<br />

abstrato do acontecimento perceptivo 1 . Não se poderão<br />

realizar mais, sob o nome de imagens psíquicas, visões perspectivas<br />

descontínuas que corresponderiam às imagens retinianas<br />

sucessivas, nem introduzir, enfim, uma "inspeção do<br />

espírito" que restitua o objeto para além <strong>da</strong>s perspectivas deformantes.<br />

Precisamos conceber as perspectivas e o ponto de<br />

vista como nossa inserção no mundo-indivíduo, e a percepção,<br />

não mais como uma constituição do objeto ver<strong>da</strong>deiro,<br />

mas como nossa inerência às coisas. A consciência descobre

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