12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O MUNDO PERCEBIDO 339<br />

Mas desejar-se-á ir mais longe na análise. Por que, perguntar-se-á,<br />

a percepção níti<strong>da</strong> e a ação segura só são possíveis<br />

em um espaço fenomenal orientado? Isso só é evidente<br />

se se supõe o sujeito <strong>da</strong> percepção e <strong>da</strong> ação confrontado com<br />

um mundo em que já existem direções absolutas, de modo<br />

que ele tenha de ajustar as dimensões de seu comportamento<br />

àquelas do mundo. Mas nós nos situamos no interior <strong>da</strong><br />

percepção, e perguntamo-nos precisamente como ela pode ter<br />

acesso a direções absolutas, logo não podemos supô-las <strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

na gênese de nossa experiência espacial. A objeção significa<br />

dizer aquilo que dizemos desde o início: que a constituição<br />

de um nível sempre supõe <strong>da</strong>do um outro nível, que<br />

o espaço sempre se precede a si mesmo. Mas essa observação<br />

não é a simples constatação de um malogro. Ela nos ensina<br />

a essência do espaço e o único método que permite compreendê-lo.<br />

É essencial ao espaço estar sempre "já constituído",<br />

e nunca o compreenderemos retirando-nos em uma percepção<br />

sem mundo. Não é preciso perguntar-se por que o<br />

ser é orientado, por que a existência é espacial, por que, em<br />

nossa linguagem de há pouco, nosso corpo não tem poder<br />

sobre o mundo em to<strong>da</strong>s as posições, e por que sua coexistência<br />

com o mundo polariza a experiência e faz surgir uma<br />

direção. A questão só poderia ser posta se esses fatos fossem<br />

acidentes que adviriam a um sujeito e a um objeto indiferentes<br />

ao espaço. A experiência perceptiva nos mostra, ao contrário,<br />

que eles estão pressupostos em nosso encontro primordial<br />

com o ser, e que ser é sinônimo de ser situado. Para o<br />

sujeito pensante, una rosto visto "direito" e o mesmo rosto<br />

visto "às avessas" são indiscerníveis. Para o sujeito <strong>da</strong> percepção,<br />

o rosto visto "às avessas" é irreconhecível. Se alguém<br />

está deitado em uma cama e eu o observo situando-me na<br />

cabeceira, por um momento esse rosto é normal. Há uma<br />

certa desordem nos traços e tenho dificul<strong>da</strong>de em compreender<br />

o sorriso como sorriso, mas sinto que poderia <strong>da</strong>r a volta na

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!