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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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160 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

mo, e não percebo o sinal em meu corpo. Faço sinal através<br />

do mundo, faço sinal ali onde se encontra meu amigo; a distância<br />

que me separa dele, seu consentimento ou sua recusa<br />

se lêem imediatamente em meu gesto, não há uma percepção<br />

segui<strong>da</strong> de um movimento, a percepção e o movimento<br />

formam um sistema que se modifica como um todo. Se, por<br />

exemplo, percebo que não querem obedecer-me e em conseqüência<br />

modifico meu gesto, não há ali dois atos de consciência<br />

distintos, mas vejo a má vontade de meu parceiro e meu<br />

gesto de impaciência nasce dessa situação, sem nenhum pensamento<br />

interposto 28 . Se agora executo "o mesmo" movimento,<br />

mas sem visar nenhum parceiro presente ou mesmo<br />

imaginário e como "uma seqüência de movimentos em si" 29 ,<br />

quer dizer, se executo uma "flexão" do antebraço sobre o<br />

braço com "supinação" do braço e "flexão" dos dedos, meu<br />

corpo, que havia pouco era o veículo do movimento, tornase<br />

sua meta; seu projeto motor não visa mais alguém no mundo,<br />

visa meu antebraço, meu braço e meus dedos, e os visa<br />

enquanto eles são capazes de romper sua inserção no mundo<br />

<strong>da</strong>do e de desenhar em torno de mim uma situação fictícia,<br />

ou mesmo enquanto, sem nenhum parceiro fictício, eu considero<br />

curiosamente essa estranha máquina de significar e a<br />

faço funcionar por diversão 30 . O movimento abstrato cava,<br />

no interior do mundo pleno no qual se desenrolava o movimento<br />

concreto, uma zona de reflexão e de subjetivi<strong>da</strong>de, ele<br />

sobrepõe ao espaço físico um espaço virtual ou humano. O<br />

movimento concreto é portanto centrípeto, enquanto o movimento<br />

abstrato é centrífugo; o primeiro ocorre no ser ou<br />

no atual, o segundo no possível ou no não-ser; o primeiro adere<br />

a um fundo <strong>da</strong>do, o segundo desdobra ele mesmo seu fundo.<br />

A função normal que torna possível o movimento abstrato<br />

é uma função de "projeção" pela qual o sujeito do movimento<br />

prepara diante de si um espaço livre onde aquilo que<br />

não existe naturalmente possa adquirir um semblante de exis-

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