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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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520 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

seu sentido a ca<strong>da</strong> palavra, é por ter sido emprega<strong>da</strong> em diferentes<br />

contextos que pouco a pouco a palavra se enche de<br />

um sentido que não é possível fixar absolutamente. Uma fala<br />

importante, um bom livro impõem seu sentido. Portanto,<br />

é de uma certa maneira que eles o trazem em si. E, quanto<br />

ao sujeito que fala, é preciso que o ato de expressão também<br />

lhe permita ultrapassar aquilo que anteriormente ele pensava,<br />

e que ele encontre em suas próprias falas mais do que pensava<br />

nelas colocar, sem o que não se veria o pensamento, mesmo<br />

solitário, procurar a expressão com tanta perseverança.<br />

Portanto, a fala é esta operação paradoxal em que tentamos<br />

alcançar, por meio de palavras cujo sentido é <strong>da</strong>do, e de significações<br />

já disponíveis, uma intenção que por princípio vai<br />

além e modifica, em última análise fixa ela mesma o sentido<br />

<strong>da</strong>s palavras pelas quais ela se traduz. A linguagem constituí<strong>da</strong><br />

só desempenha um papel na operação de expressão, como<br />

as cores na pintura: se não tivéssemos olhos ou em geral<br />

sentidos, para nós não haveria pintura, e to<strong>da</strong>via o quadro<br />

"diz" mais coisas do que o simples exercício de nossos sentidos<br />

pode ensinar-nos. O quadro para além dos <strong>da</strong>dos dos sentidos,<br />

a fala para além dos <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> linguagem constituí<strong>da</strong><br />

devem ter então por si mesmos uma virtude signifícante, sem<br />

referência a uma significação que exista para si, no espírito<br />

do espectador ou do ouvinte. "Por meio <strong>da</strong>s palavras, assim<br />

como o pintor por meio <strong>da</strong>s cores e o músico por meio <strong>da</strong>s<br />

notas, nós queremos, de um espetáculo ou de uma emoção<br />

ou mesmo de uma idéia abstrata, constituir um tipo de equi-.<br />

valente ou de espécie solúvel no espírito. Aqui a expressão se<br />

torna a coisa principal. Nós informamos o leitor, nós o fazemos<br />

participar de nossa ação criadora ou poética, nós colocamos<br />

na boca secreta de seu espírito uma enunciação de tal<br />

objeto ou de tal sentimento." 27 Para o pintor ou para o sujeito<br />

falante, o quadro e a fala não são a ilustração de um<br />

pensamento já feito, mas a apropriação desse mesmo pensa-

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