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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 555<br />

é uma retrospecção, em todo caso ela é uma retrospecção antecipa<strong>da</strong>,<br />

e como poderíamos antecipar se não tivéssemos o<br />

sentido do porvir? Nós adivinhamos "por analogia", diz-se,<br />

que este presente incomparável, assim como os outros, passará.<br />

Mas, para que haja analogia entre os presentes findos<br />

e o presente efetivo, é preciso que este não se dê apenas como<br />

presente, que ele já se anuncie como um passado para<br />

breve, que nós sintamos sobre ele a pressão de um porvir que<br />

procura destituí-lo, em suma que o curso do tempo seja originariamente<br />

não apenas a passagem do presente ao passado,<br />

mas ain<strong>da</strong> a passagem do futuro ao presente. Se podemos<br />

dizer que to<strong>da</strong> prospecção é uma retrospecção antecipa<strong>da</strong>,<br />

podemos dizer <strong>da</strong> mesma maneira que to<strong>da</strong> retrospecção<br />

é uma prospecção inverti<strong>da</strong>: sei que estive na Córsega antes<br />

<strong>da</strong> guerra, porque sei que a guerra estava no horizonte de<br />

minha viagem à Córsega. O passado e o porvir não podem<br />

ser simples conceitos que nós formaríamos por abstração a<br />

partir de nossas percepções e de nossas recor<strong>da</strong>ções, não podem<br />

ser simples denominações para designar a série efetiva<br />

dos "fatos psíquicos". O tempo é pensado por nós antes <strong>da</strong>s<br />

partes do tempo, as relações temporais tornam possíveis os<br />

acontecimentos no tempo. É preciso portanto, correlativamente,<br />

que o próprio sujeito não esteja ali situado, para que ele<br />

possa, em intenção, estar presente ao passado assim como ao<br />

porvir. Não digamos mais que o tempo é um "<strong>da</strong>do <strong>da</strong> consciência",<br />

digamos, mais precisamente, que a consciência desdobra<br />

ou constitui o tempo. Pela ideali<strong>da</strong>de do tempo, ela<br />

deixa enfim de estar encerra<strong>da</strong> no presente.<br />

Mas ela teria abertura a um passado e a um porvir? Ela<br />

não está mais obceca<strong>da</strong> pelo presente e pelos "conteúdos",<br />

caminha livremente de um passado e de um porvir que não<br />

estão longe dela, já que ela os constitui como passado e como<br />

porvir e já que eles são seus objetos imanentes, para um presente<br />

que não está perto dela, já que ele só está presente pe-

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