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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 601<br />

é preciso que eu tenha com o que reconhecê-los, é preciso portanto<br />

que as estruturas do Para Outrem já sejam as dimensões<br />

do Para Si. Aliás, é impossível derivar do Para Outrem<br />

to<strong>da</strong>s as especificações <strong>da</strong>s quais falamos. Outrem não é necessariamente,<br />

nunca é totalmente objeto para mim. E na simpatia,<br />

por exemplo, posso perceber outrem como existência<br />

nua e liber<strong>da</strong>de tanto ou tão pouco quanto a mim mesmo.<br />

Outrem-objeto não é senão uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de insincera de outrem,<br />

assim como a subjetivi<strong>da</strong>de absoluta não é senão uma<br />

noção abstrata de mim mesmo. Portanto, é preciso que na<br />

reflexão mais radical eu já apreen<strong>da</strong> em torno de minha individuali<strong>da</strong>de<br />

absoluta como que um halo de generali<strong>da</strong>de ou<br />

como que uma atmosfera de "sociabili<strong>da</strong>de". Isso é necessário<br />

se a seguir as expressões "um burguês" e "um homem"<br />

devem poder adquirir um sentido para mim. E preciso que<br />

de um só golpe eu me apreen<strong>da</strong> como excêntrico a mim mesmo<br />

e que minha existência singular por assim dizer difun<strong>da</strong><br />

em torno de si uma existência na-quali<strong>da</strong>de. É preciso que<br />

os Para Si — eu para mim mesmo e outrem para si mesmo<br />

-— se destaquem sobre um fundo de Para Outrem — eu para<br />

outrem e outrem para mim. É preciso que minha vi<strong>da</strong> tenha<br />

um sentido que eu não constitua, que a rigor exista uma intersubjetivi<strong>da</strong>de,<br />

que ca<strong>da</strong> um de nós seja simultaneamente<br />

um anônimo no sentido <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>de absoluta e um anônimo<br />

no sentido <strong>da</strong> generali<strong>da</strong>de absoluta. Nosso ser no mundo<br />

é o portador concreto desse duplo anonimato.<br />

Sob essa condição, pode haver situações, um sentido <strong>da</strong><br />

história, uma ver<strong>da</strong>de histórica, três maneiras de dizer a mesma<br />

coisa. Se efetivamente eu me fizesse operário ou burguês<br />

por uma iniciativa absoluta, e se em geral na<strong>da</strong> solicitasse a<br />

liber<strong>da</strong>de, a história não comportaria nenhuma estrutura, não<br />

se veria nenhum acontecimento perfilar-se nela, tudo poderia<br />

sair de tudo. Não existiria o Império Britânico como forma<br />

histórica relativamente estável à qual se pudesse <strong>da</strong>r um

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