12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O MUNDO PERCEBIDO 409<br />

construção artificial do fenômeno. Pois, considerando a própria<br />

percepção, não se pode dizer que o pardo <strong>da</strong> mesa se<br />

ofereça sob to<strong>da</strong>s as iluminações como o mesmo pardo, como<br />

a mesma quali<strong>da</strong>de efetivamente <strong>da</strong><strong>da</strong> pela recor<strong>da</strong>ção.<br />

Um papel branco na obscuri<strong>da</strong>de, que reconhecemos como<br />

tal, não é pura e simplesmente branco, ele "não se deixa situar<br />

de maneira satisfatória na série negro-branco" 4 . Seja<br />

uma parede branca na obscuri<strong>da</strong>de e um papel cinza à luz,<br />

não se pode dizer que a parede permanece branca e o papel<br />

cinza: o papel faz mais impressão ao olhar 5 , ele é mais luminoso,<br />

mais claro, a parede é mais escura e mais fosca, não<br />

é, por assim dizer, senão a "substância <strong>da</strong> cor" que permanece<br />

sob as variações de iluminação 6 . A pretensa constância<br />

<strong>da</strong>s cores não impede "uma incontestável mu<strong>da</strong>nça durante<br />

a qual continuamos a receber em nossa visão a quali<strong>da</strong>de fun<strong>da</strong>mental<br />

e, por assim dizer, aquilo que nela existe de substancial"<br />

7 . Essa mesma razão nos impedirá de tratar a constância<br />

<strong>da</strong>s cores como uma constância ideal e de reportá-la<br />

ao juízo. Pois um juízo que distinguisse, na aparência <strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />

a parte <strong>da</strong> iluminação só poderia concluir-se por uma identificação<br />

<strong>da</strong> cor própria do objeto, e nós acabamos de ver que<br />

ela não permanece idêntica. A fraqueza do empirismo, assim<br />

como do intelectualismo, é não reconhecer outras cores<br />

senão as quali<strong>da</strong>des fixas que aparecem na atitude reflexiva,<br />

quando na percepção viva a cor é uma introdução à coisa.<br />

É preciso perder esta ilusão, sustenta<strong>da</strong> pela física, de que<br />

o mundo percebido seja feito de cores-quali<strong>da</strong>des. Como os<br />

pintores o observaram, existem poucas cores na natureza. A<br />

percepção <strong>da</strong>s cores é tardia na criança e, em todo caso, muito<br />

posterior à constituição de um mundo. Os maoris têm 3.000<br />

nomes de cor, não que eles percebam muito, mas ao contrário<br />

porque não as identificam quando elas pertencem a objetos<br />

de estrutura diferente 8 . Como o disse Scheler, a percepção<br />

vai diretamente à coisa sem passar pelas cores, assim co-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!