12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

466 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

se trata de uma civilização desconheci<strong>da</strong> ou estranha, várias<br />

maneiras de ser ou de viver podem repousar sobre as ruínas,<br />

sobre os instrumentos quebrados que encontro ou sobre a paisagem<br />

que percorro. O mundo cultural é agora ambíguo, mas<br />

ele já está presente. Há ali uma socie<strong>da</strong>de a conhecer. Um<br />

Espírito Objetivo habita os vestígios e as paisagens. Como isso<br />

é possível? No objeto cultural, eu sinto, sob um véu de anonimato,<br />

a presença próxima de outrem. Servem-j-í do cachimbo<br />

para fumar, <strong>da</strong> colher para comer, <strong>da</strong> sineta para chamar,<br />

e é pela percepção de um ato humano ou de um outro homem<br />

que a percepção do mundo cultural poderia verificar-se. Como<br />

uma ação ou um pensamento humano poderiam ser<br />

apreendidos no modo do "se", já que, por princípio, elas são<br />

operações em primeira pessoa, inseparáveis de um Eu? É fácil<br />

responder que aqui o pronome indefinido é apenas uma<br />

fórmula vaga para designar uma multiplici<strong>da</strong>de de Eus ou ain<strong>da</strong><br />

um Eu em geral. Tenho, dir-se-á, a experiência de um certo<br />

ambiente cultural e <strong>da</strong>s condutas que a ele correspondem;<br />

diante dos vestígios de uma civilização desapareci<strong>da</strong>, concebo<br />

por analogia a espécie de homem que ali viveu. Mas em<br />

primeiro lugar seria preciso saber como posso ter a experiência<br />

de meu próprio mundo cultural, de minha civilização.<br />

Responder-se-á outra vez que vejo os outros homens em torno<br />

de mim fazerem um certo uso dos utensílios que me rodeiam,<br />

que interpreto a conduta deles por analogia com a minha<br />

e por minha experiência íntima, que me ensina o sentido<br />

e a intenção dos gestos percebidos. No final <strong>da</strong>s contas, as ações<br />

dos outros seriam sempre compreendi<strong>da</strong>s pelas minhas; o "se"<br />

ou o "nós" pelo Eu. Mas a questão está justamente aqui: como<br />

a palavra Eu pode colocar-se no plural, como se pode formar<br />

uma idéia geral do Eu, como posso falar de um outro Eu<br />

que não o meu, como posso saber que existem outros Eus,<br />

como a consciência, que por princípio e enquanto conheci-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!