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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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244 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

ficação conceituai se forme por antecipação a partir de uma<br />

significação gesíual que, ela, é imanente à fala. E, assim como<br />

em um país estrangeiro começo a compreender o sentido <strong>da</strong>s<br />

palavras por seu lugar em um contexto de ação e participando<br />

à vi<strong>da</strong> comum, <strong>da</strong> mesma maneira um texto filosófico ain<strong>da</strong><br />

mal compreendido me revela pelo menos um certo "estilo"<br />

— seja em estilo spinozista, criticista ou fenomenológico —<br />

que é o primeiro esboço de seu sentido, começo a compreender<br />

uma filosofia introduzindo-me na maneira de existir desse<br />

pensamento, reproduzindo seu tom, o sotaque do filósofo.<br />

Em suma, to<strong>da</strong> linguagem se ensina por si mesma e introduz<br />

seu sentido no espírito do ouvinte. Uma música ou uma pintura<br />

que primeiramente não é compreendi<strong>da</strong>, se ver<strong>da</strong>deiramente<br />

diz algo, termina por criar por si mesma seu público,<br />

quer dizer, por secretar ela mesma sua significação. No caso<br />

<strong>da</strong> prosa ou <strong>da</strong> poesia, a potência <strong>da</strong> fala é menos visível, porque<br />

temos a ilusão de já possuirmos em nós, com o sentido<br />

comum <strong>da</strong>s palavras, o que é preciso para compreender qualquer<br />

texto, quando, evidentemente, as cores <strong>da</strong> paleta ou os<br />

sons brutos dos instrumentos, tais como a percepção natural<br />

os oferece a nós, não bastam para formar o sentido musical<br />

de uma música, o sentido pictórico de uma pintura. Mas na<br />

ver<strong>da</strong>de o sentido de uma obra literária é menos feito pelo<br />

sentido comum <strong>da</strong>s palavras do que contribui para modificálo.<br />

Há portanto, tanto naquele que escuta ou lê como naquele<br />

que fala e escreve, um pensamento na fala que o intelectualismo<br />

não suspeita.<br />

Se queremos levá-lo em consideração, precisamos voltar<br />

ao fenômeno <strong>da</strong> fala e recolocar em questão as descrições<br />

ordinárias que imobilizam o pensamento, assim como a fala,<br />

e permitem conceber entre eles apenas relações exteriores. É<br />

preciso reconhecer em primeiro lugar que o pensamento, no<br />

sujeito falante, não é uma representação, quer dizer, que este<br />

não põe expressamente objetos ou relações. O orador não

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