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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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90 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

fisionomia concreta, aos organismos sua maneira própria de<br />

tratar o mundo, à subjetivi<strong>da</strong>de sua inerência histórica, reencontrar<br />

os fenômenos, a cama<strong>da</strong> de experiência viva através<br />

<strong>da</strong> qual primeiramente o outro e as coisas nos são <strong>da</strong>dos, o<br />

sistema "Eu-Outro-as coisas" no estado nascente, despertar<br />

a percepção e desfazer a astúcia pela qual ela se deixa esquecer<br />

enquanto fato e enquanto percepção, em benefício do objeto<br />

que nos entrega e <strong>da</strong> tradição racional que fun<strong>da</strong>.<br />

Este campo fenomenal não é um "mundo interior", o<br />

"fenômeno" não é um "estado de consciência" ou um "fato<br />

psíquico", a experiência dos fenômenos não é uma introspecção<br />

ou uma intuição no sentido de Bergson. Por muito<br />

tempo se definiu o objeto <strong>da</strong> psicologia dizendo que ele era<br />

"inextenso" e "acessível a um só", e <strong>da</strong>í resultava que esse<br />

objeto singular só podia ser apreendido por um ato todo especial,<br />

a "percepção interior" ou introspecção, na qual o sujeito<br />

e o objeto estavam confundidos e o conhecimento era<br />

obtido por coincidência. O retorno aos "<strong>da</strong>dos imediatos <strong>da</strong><br />

consciência" tornava-se assim uma operação sem esperanças,<br />

já que o olhar filosófico procurava ser aquilo que por princípio<br />

ele não podia ver. A dificul<strong>da</strong>de não era apenas a de destruir<br />

o prejuízo do exterior, como to<strong>da</strong>s as filosofias convi<strong>da</strong>m<br />

o iniciante a fazer, ou a de descrever o espírito em uma<br />

linguagem feita para traduzir as coisas. Ela era muito mais<br />

radical, já que a interiori<strong>da</strong>de, defini<strong>da</strong> pela impressão, por<br />

princípio escapava a qualquer tentativa de expressão. Não<br />

era apenas a comunicação <strong>da</strong>s intuições filosóficas aos outros<br />

homens que se tornava difícil — ou, mais exatamente, se reduzia<br />

a um tipo de encantamento destinado a induzir neles<br />

experiências análogas às do filósofo —, mas o próprio filósofo<br />

não podia <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong>quilo que ele via no instante, já que<br />

seria preciso pensá-lo, quer dizer, fixá-lo e deformá-lo. Portanto,<br />

o imediato era uma vi<strong>da</strong> solitária, cega e mu<strong>da</strong>. O retorno<br />

ao fenomenal não apresenta nenhuma dessas particu-

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