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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 417<br />

ra nós a tal ponto natural, que não é mais nem mesmo percebi<strong>da</strong><br />

como penumbra. A iluminação elétrica, que nos parece<br />

amarela no momento em que saímos <strong>da</strong> luz diurna, logo deixa<br />

de ter para nós alguma cor defini<strong>da</strong> e, se um resto de luz<br />

diurna penetra no cômodo, é esta luz "objetivamente neutra"<br />

que nos parece tingi<strong>da</strong> de azul 26 . Não se deve dizer que,<br />

a iluminação amarela <strong>da</strong> eletrici<strong>da</strong>de sendo percebi<strong>da</strong> como<br />

amarela, nós levamos isso em conta na apreciação <strong>da</strong>s aparências<br />

e reencontramos assim, idealmente, a cor própria dos<br />

objetos. Não se deve dizer que a luz amarela, na medi<strong>da</strong> em<br />

que se generaliza, é vista sob o aspecto <strong>da</strong> luz diurna e que<br />

assim a cor dos outros objetos permanece realmente constante.<br />

E preciso dizer que a luz amarela, assumindo a função<br />

de iluminação, tende a situar-se aquém de qualquer cor, tende<br />

para o zero de cor e que, correlativãmente, os objetos distribuem-se<br />

as cores do espectro segundo o grau e o modo de<br />

sua resistência a essa nova atmosfera. Portanto, to<strong>da</strong> cor-quale<br />

é media<strong>da</strong> por uma cor-função, determina-se em relação a<br />

um nível que é variável. O nível se estabelece e, com ele,<br />

todos os valores coloridos que dele dependem, quando começamos<br />

a viver na atmosfera dominante e, em função dessa<br />

convenção fun<strong>da</strong>mental, redistribuímos sobre os objetos<br />

as cores do espectro. Nossa instalação em um certo ambiente<br />

colorido, com a transposição de to<strong>da</strong>s as relações de cores que<br />

ela acarreta, é uma operação corporal; só posso realizá-la entrando<br />

na nova atmosfera, porque meu corpo é meu poder geral<br />

de habitar todos os ambientes do mundo, a chave de to<strong>da</strong>s<br />

as transposições e de to<strong>da</strong>s as equivalências que o mantêm<br />

constante. Assim, a iluminação é apenas um momento<br />

em uma estrutura complexa cujos outros momentos são a organização<br />

do campo, tal como nosso corpo a realiza, e a coisa<br />

ilumina<strong>da</strong> em sua constância. As correlações funcionais<br />

que se podem descobrir entre esses três fenômenos são uma<br />

manifestação de sua "coexistência essencial" 27 .

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