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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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600 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

indivíduo para além <strong>da</strong>s classes, sou socialmente situado, e<br />

minha liber<strong>da</strong>de, se tem o poder de me engajar alhures, não<br />

tem o poder de instantaneamente me tornar aquilo que decido<br />

ser. Assim, ser burguês ou operário não é apenas ter consciência<br />

de sê-lo, é valorizar-se como operário ou como burguês<br />

por um projeto implícito ou existencial que se confunde<br />

com nossa maneira de pôr em forma o mundo e de coexistir<br />

com os outros. Minha decisão retoma um sentido espontâneo<br />

de minha vi<strong>da</strong>, que ela pode confirmar ou infirmar, mas<br />

não anular. O idealismo e o pensamento objetivo deixam<br />

igualmente escapar a toma<strong>da</strong> de consciência de classe, um<br />

porque deduz a existência efetiva <strong>da</strong> consciência, outro porque<br />

infere a consciência <strong>da</strong> existência de fato, ambos porque<br />

ignoram a relação de motivação.<br />

Responder-se-á talvez, do lado do idealismo, que para<br />

mim mesmo eu não sou um projeto particular, mas uma pura<br />

consciência, e que os atributos de burguês ou de operário<br />

só me pertencem na medi<strong>da</strong> em que me recoloco entre os outros,<br />

que me vejo pelos olhos deles, do exterior, e como um<br />

"outro". Elas seriam categorias do Para Outrem e não do<br />

Para Si. Mas, se houvesse dois tipos de categorias, como eu<br />

poderia ter a experiência de outrem, quer dizer, de um alter<br />

ego? Ela supõe que na visão que tenho de mim mesmo já esteja<br />

esboça<strong>da</strong> minha quali<strong>da</strong>de de "outro" possível, e que<br />

na visão que tenho de outrem esteja implica<strong>da</strong> sua quali<strong>da</strong>de<br />

dcego. Responder-se-á novamente que outrem me é <strong>da</strong>do como<br />

um fato e não como uma possibili<strong>da</strong>de de meu ser próprio.<br />

O que se quer dizer com isso? Que eu não teria a experiência<br />

de outros homens se eles não existissem na superfície<br />

<strong>da</strong> terra? A proposição é evidente, mas não resolve nosso problema,<br />

pois, como Kant já dizia, não se pode passar de "todo<br />

conhecimento começa com a experiência" a "todo conhecimento<br />

provém <strong>da</strong> experiência''. Se os outros hórhens que<br />

existem empiricamente devem ser para mim outros homens,

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