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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 465<br />

o presente histórico. Para adivinhar essa existência informe<br />

que precede minha história e a terminará, só preciso observar<br />

em mim este tempo que funciona por si só e que minha<br />

vi<strong>da</strong> pessoal utiliza sem mascará-lo inteiramente. Porque sou<br />

mantido na existência pessoal por um tempo que não constituo,<br />

to<strong>da</strong>s as minhas percepções se perfilam sobre um fundo<br />

de natureza. Enquanto percebo, e mesmo sem nenhum conhecimento<br />

<strong>da</strong>s condições orgânicas de minha percepção, tenho<br />

consciência de integrar "consciências" sonhadoras e dispersas,<br />

a visão, a audição, o tato, com seus campos que são<br />

anteriores e permanecem estranhos à minha vi<strong>da</strong> pessoal. O<br />

objeto natural é o rastro dessa existência generaliza<strong>da</strong>. E, em<br />

primeiro lugar, todo objeto será, em algum aspecto, um objeto<br />

natural, ele será feito de cores, de quali<strong>da</strong>des táteis e sonoras,<br />

se ele deve poder entrar em minha vi<strong>da</strong>.<br />

Assim como a natureza penetra até no centro de minha<br />

vi<strong>da</strong> pessoal e entrelaça-se a ela, os comportamentos também<br />

descem na natureza e depositam-se nela sob a forma de um<br />

mundo cultural. Não tenho apenas um mundo físico, não vivo<br />

somente no ambiente <strong>da</strong> terra, do ar e <strong>da</strong> água, tenho em<br />

torno de mim estra<strong>da</strong>s, plantações, povoados, ruas, igrejas,<br />

utensílios, uma sineta, uma colher, um cachimbo. Ca<strong>da</strong> um<br />

desses objetos traz implicitamente a marca <strong>da</strong> ação humana<br />

à qual ele serve. Ca<strong>da</strong> um emite uma atmosfera de humani<strong>da</strong>de<br />

que pode ser muito pouco determina<strong>da</strong>, se se trata de<br />

algumas marcas de passos na areia, ou ao contrário muito<br />

determina<strong>da</strong>, se visito todos os cômodos de uma casa recém-desocupa<strong>da</strong>.<br />

Ora, se não é surpreendente que as funções<br />

sensoriais e perceptivas depositem diante de si um mundo natural,<br />

já que elas são pré-pessoais, podemos admirar-nos de<br />

que os atos espontâneos pelos quais o homem enformou sua<br />

vi<strong>da</strong> se sedimentem no exterior e ali levem a existência anônima<br />

<strong>da</strong>s coisas. A civilização <strong>da</strong> qual eu participo existe para<br />

mim com evidência nos utensílios que ela se fornece. Se

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