12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

506 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

(após a revelação de minha ilusão sobre mim mesmo) e quando<br />

tentarei compreender aquilo que me aconteceu, sob esse pretenso<br />

amor eu reconhecerei outra coisa que não o amor: a semelhança<br />

entre a a mulher "ama<strong>da</strong>" e uma outra pessoa,<br />

o tédio, o hábito, uma comuni<strong>da</strong>de de interesses ou de convicção,<br />

e é isso mesmo que me permitirá falar de ilusão. Eu<br />

só amava quali<strong>da</strong>des (este sorriso, que se assemelha a um outro<br />

sorriso, esta beleza que se impõe como um fato, esta juventude<br />

dos gestos e <strong>da</strong> conduta) e não a maneira de existir<br />

singular que é a própria pessoa. E, correlativamente, eu não<br />

estava conquistado por inteiro, regiões de minha vi<strong>da</strong> passa<strong>da</strong><br />

e de minha vi<strong>da</strong> futura escapavam à invasão, eu conservava<br />

em mim lugares reservados para outra coisa. Então, dirse-á,<br />

ou eu não o sabia, e nesse caso não se trata de um amor<br />

ilusório, trata-se de um amor que terminou, ou então eu o<br />

sabia, e nesse caso nunca houve amor, nem mesmo "falso".<br />

To<strong>da</strong>via, ele não é nem um nem outro. Não se pode dizer<br />

que esse amor tenha sido, enquanto existia, indiscernível de<br />

um amor ver<strong>da</strong>deiro, e que se tenha tornado "falso amor"<br />

quando eu o reneguei. Não se pode dizer que uma crise mística<br />

aos quinze anos seja em si mesma desprovi<strong>da</strong> de sentido<br />

e, segundo eu a valorize livremente na seqüência de minha<br />

vi<strong>da</strong>, se torne incidente de puber<strong>da</strong>de ou primeiro sinal de uma<br />

vocação religiosa. Mesmo se construo to<strong>da</strong> a minha vi<strong>da</strong> sobre<br />

um incidente de puber<strong>da</strong>de, esse incidente conserva seu<br />

caráter contingente e é minha vi<strong>da</strong> inteira que é "falsa". Na<br />

própria crise mística, tal como eu a vivi, devemos encontrar<br />

algum caráter que distinga a vocação do incidente: no primeiro<br />

caso, a atitude mística se insere em minha relação fun<strong>da</strong>mental<br />

com o mundo e com outrem; no segundo caso, ela<br />

é, no interior do sujeito, um comportamento impessoal e sem<br />

necessi<strong>da</strong>de interna, "a puber<strong>da</strong>de". Da mesma maneira, o<br />

amor ver<strong>da</strong>deiro convoca todos os recursos do sujeito e o interessa<br />

por inteiro, o falso amor só concerne a um de seus

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!