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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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124 FEN0MEN0L0G1A DA PERCEPÇÃO<br />

ela até mesmo exclui a recor<strong>da</strong>ção enquanto esta expõe uma<br />

experiência antiga como urn quadro diante de nós e enquanto,<br />

ao contrário, este passado que permanece nosso ver<strong>da</strong>deiro<br />

presente não se distancia de nós e esconde-se sempre<br />

atrás de nosso olhar em lugar de dispor-se diante dele. A experiência<br />

traumática não subsiste a título de representação,<br />

no modo <strong>da</strong> consciência objetiva e como um momento que<br />

tem sua <strong>da</strong>ta; é-lhe essencial sobreviver como um estilo de<br />

ser e em um certo grau de generali<strong>da</strong>de. Eu alieno meu poder<br />

perpétuo de me <strong>da</strong>r "mundos" em benefício de um deles,<br />

e por isso mesmo este mundo privilegiado perde sua substância<br />

e termina por ser apenas uma certa angústia. Portanto,<br />

todo recalque é a passagem <strong>da</strong> existência em primeira pessoa<br />

a um tipo de escolástica dessa existência, que vive para uma<br />

experiência antiga ou antes para a recor<strong>da</strong>ção de tê-la tido,<br />

depois para a recor<strong>da</strong>ção de ter tido essa recor<strong>da</strong>ção e assim<br />

por diante, a ponto de que finalmente ela só retenha sua forma<br />

típica. Ora, como advento do impessoal, o recalque é um<br />

fenômeno universal, ele faz compreender nossa condição de<br />

seres encarnados ligando-a à estrutura temporal do ser no<br />

mundo. Enquanto tenho "órgãos dos sentidos", um "corpo",<br />

"funções psíquicas" comparáveis àquelas dos outros homens,<br />

ca<strong>da</strong> um dos momentos de minha experiência deixa<br />

de ser uma totali<strong>da</strong>de integra<strong>da</strong>, rigorosamente única, em que<br />

os detalhes só existiriam em função do conjunto, eu me torno<br />

o lugar onde uma multidão de "causali<strong>da</strong>des" se entrecruzam.<br />

Enquanto habito um "mundo físico", em que "estímulos"<br />

constantes e situações típicas se reencontram — e<br />

não apenas o mundo histórico em que as situações nunca são<br />

comparáveis —, minha vi<strong>da</strong> comporta ritmos que não têm<br />

sua razão naquilo que escolhi ser, mas sua condição no meio<br />

banal que me circun<strong>da</strong>. Assim, em torno de nossa existência<br />

pessoal aparece uma margem de existência quase, impessoal,<br />

que é por assim dizer evidente, e à qual eu reporto o zelo de

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