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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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512 • FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

eu os faço. To<strong>da</strong> percepção interior é inadequa<strong>da</strong> porque eu<br />

não sou um objeto que se possa perceber, porque eu faço minha<br />

reali<strong>da</strong>de e só me encontro no ato. "Eu duvido": não<br />

há outra maneira de fazer cessar to<strong>da</strong> dúvi<strong>da</strong> em relação a<br />

essa proposição senão duvi<strong>da</strong>r efetivamente, engajar-se na experiência<br />

<strong>da</strong> dúvi<strong>da</strong> e assim fazer esta dúvi<strong>da</strong> existir como<br />

certeza de duvi<strong>da</strong>r. Duvi<strong>da</strong>r é sempre duvi<strong>da</strong>r de algo, mesmo<br />

se se "duvi<strong>da</strong> de tudo". Estou certo de duvi<strong>da</strong>r porque<br />

assumo tal ou tal coisa, ou mesmo qualquer coisa e minha<br />

própria existência, justamente como duvidosas. É em minha<br />

relação com "coisas" que eu me conheço, a percepção interior<br />

vem depois, e ela não seria possível se eu não tivesse tomado<br />

contato com minha dúvi<strong>da</strong> vivendo-a até em seu objeto.<br />

Pode-se dizer <strong>da</strong> percepção interior aquilo que dissemos<br />

<strong>da</strong> percepção exterior: que ela envolve o infinito, que ela é<br />

uma síntese nunca acaba<strong>da</strong> e que se afirma, embora seja inacaba<strong>da</strong>.<br />

Se quisesse verificar minha percepção do cinzeiro,<br />

eu nunca a terminaria, ela presume mais do que sei por ciência<br />

explícita. Da mesma maneira, se quisesse verificar a reali<strong>da</strong>de<br />

de minha dúvi<strong>da</strong>, eu nunca a terminaria, seria preciso<br />

colocar em questão meu pensamento de duvi<strong>da</strong>r, o pensamento<br />

desse pensamento e assim por diante. A certeza provém<br />

<strong>da</strong> própria dúvi<strong>da</strong> enquanto ato e não desses pensamentos,<br />

assim como a certeza <strong>da</strong> coisa e do mundo precede o<br />

conhecimento tético de suas proprie<strong>da</strong>des. Saber é, como o<br />

disseram, saber que se sabe, não que esta segun<strong>da</strong> potência<br />

do saber funde o próprio saber, mas, ao contrário, porque<br />

este a fun<strong>da</strong>. Eu não posso reconstruir a coisa, e to<strong>da</strong>via existem<br />

coisas percebi<strong>da</strong>s, <strong>da</strong> mesma maneira nunca posso coincidir<br />

com minha vi<strong>da</strong> que se dissipa, e to<strong>da</strong>via existem percepções<br />

interiores. A mesma razão me torna capaz de ilusão<br />

e de ver<strong>da</strong>de em relação a mim mesmo: a saber, é que existem<br />

atos nos quais me concentro para me ultrapassar. O Cogito<br />

é o reconhecimento desse fato fun<strong>da</strong>mental. Na proposi-

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