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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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4 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

cuja distância em relação a mim desmoronaria, visto que ela<br />

não lhe pertence como uma proprie<strong>da</strong>de, se eu não estivesse<br />

lá para percorrê-la com o olhar. As representações científicas<br />

segundo as quais eu sou um momento do mundo são sempre<br />

ingênuas e hipócritas, porque elas subentendem, sem mencioná-la,<br />

essa outra visão, aquela <strong>da</strong> consciência, pela qual<br />

antes de tudo um mundo se dispõe em torno de mim e começa<br />

a existir para mim. Retornar às coisas mesmas é retornar<br />

a este mundo anterior ao conhecimento do qual o conhecimento<br />

sempre fala, e em relação ao qual to<strong>da</strong> determinação<br />

científica é abstrata, significativa e dependente, como a geografia<br />

em relação à paisagem — primeiramente nós aprendemos<br />

o que é uma floresta, um prado ou um riacho.<br />

Este movimento é absolutamente distinto do retorno<br />

idealista à consciência, e a exigência de uma descrição pura<br />

exclui tanto o procedimento <strong>da</strong> análise reflexiva quanto o <strong>da</strong><br />

explicação científica. Descartes e sobretudo Kant desligaram<br />

o sujeito ou a consciência, fazendo ver que eu não poderia<br />

apreender nenhuma coisa como existente se primeiramente<br />

eu não me experimentasse existente no ato de apreendê-la;<br />

eles fizeram aparecer a consciência, a absoluta certeza de mim<br />

para mim, como a condição sem a qual não haveria absolutamente<br />

na<strong>da</strong>, e o ato de ligação como o fun<strong>da</strong>mento do ligado.<br />

Sem dúvi<strong>da</strong>, o ato de ligação não é na<strong>da</strong> sem o espetáculo<br />

do mundo que ele liga; a uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> consciência, em Kant,<br />

é exatamente contemporânea <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de do mundo e, em<br />

Descartes, a dúvi<strong>da</strong> metódica não nos faz perder na<strong>da</strong>, visto<br />

que o mundo inteiro, pelo menos a título de experiência nossa,<br />

é reintegrado ao Cogito, certo com ele, e apenas afetado<br />

pelo índice "pensamento de...". Mas as relações entre o sujeito<br />

e o mundo não são rigorosamente bilaterais: se elas o<br />

fossem, a certeza do mundo, em Descartes, seria imediatamente<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> com a certeza do Cogito, e Kant não falaria de<br />

"inversão copernicana". A análise reflexiva, a partir de nos-

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