12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

434 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

a existência e só se envolve do mínimo de matéria que lhe<br />

é necessária para se comunicar. Ao contrário, a maravilha<br />

do mundo real é que nele o sentido é um e o mesmo que a<br />

existência, e que deveras o vemos instalar-se nela. No imaginário,<br />

eu mal concebi a intenção de ver e já creio ter visto.<br />

O imaginário é sem profundi<strong>da</strong>de, não corresponde aos nossos<br />

esforços para variar nossos pontos de vista, não se presta<br />

à nossa observação 58 . Nunca temos poder sobre ele. Ao contrário,<br />

na percepção é a própria matéria que adquire sentido<br />

e forma. Se espero alguém à porta de uma casa, em uma rua<br />

mal ilumina<strong>da</strong>, ca<strong>da</strong> pessoa que transpõe a porta aparece um<br />

instante sob uma forma confusa. E alguém que sai, e não sei<br />

se nele posso reconhecer aquele que espero. A silhueta bem<br />

conheci<strong>da</strong> nascerá desta névoa, assim como a terra de sua nebulosa.<br />

O real distingue-se de nossas ficções porque nele o<br />

sentido investe e penetra profun<strong>da</strong>mente a matéria. Uma vez<br />

lacerado o quadro, só temos entre as mãos pe<strong>da</strong>ços de tela<br />

caiados. Se quebramos uma pedra e os fragmentos dessa pedra,<br />

os pe<strong>da</strong>ços que obtemos ain<strong>da</strong> são pe<strong>da</strong>ços de pedra. O<br />

real presta-se a uma exploração infinita, ele é inesgotável. É<br />

por isso que os objetos humanos, os utensílios, nos aparecem<br />

como postos sobre o mundo, enquanto as coisas estão enraiza<strong>da</strong>s<br />

em um fundo de natureza inumana. Para nossa existência,<br />

a coisa é muito menos um pólo de atração do que um<br />

pólo de repulsão. Nós nos ignoramos nela, e é justamente isso<br />

que faz dela uma coisa. Não começamos por conhecer os<br />

aspectos perspectivos <strong>da</strong> coisa; ela não é media<strong>da</strong> por nossos<br />

sentidos, nossas sensações, nossas perspectivas, nós vamos diretamente<br />

a ela e é secun<strong>da</strong>riamente que percebemos os limites<br />

de nosso conhecimento e de nós mesmos enquanto cognoscentes.<br />

Eis um <strong>da</strong>do, consideremo-lo tal como ele se oferece<br />

na atitude natural a um sujeito que nunca se interrogou<br />

sobre a percepção e que vive nas coisas. O <strong>da</strong>do está ali, ele<br />

repousa no mundo; se o sujeito o volteia, não são signos, mas

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!