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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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440 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

no horizonte de minha vi<strong>da</strong> como o rumor de uma grande<br />

ci<strong>da</strong>de serve de fundo a tudo aquilo que nela fazemos. Diz-se<br />

que os sons ou as cores pertencem a um campo sensorial porque<br />

sons, uma vez percebidos, só podem ser seguidos por outros<br />

sons, ou pelo silêncio, que não é um na<strong>da</strong> auditivo, mas<br />

a ausência de sons, e que portanto mantém nossa comunicação<br />

com o ser sonoro. Se reflito e durante esse tempo deixo<br />

de ouvir, no momento em que retomo contato com os sons<br />

eles me aparecem como já estando ali, eu reencontro um fio<br />

que tinha deixado cair e que não está rompido. O campo é<br />

uma montagem que tenho para um certo tipo de experiências<br />

e que, uma vez estabelecido, não pode ser anulado. Nossa<br />

posse do mundo é do mesmo gênero, à exceção de que se pode<br />

conceber um sujeito sem campo auditivo, mas não um sujeito<br />

sem mundo 62 . Assim como, no sujeito que ouve, a ausência<br />

de sons não rompe a comunicação com o mundo sonoro,<br />

<strong>da</strong> mesma forma num sujeito surdo e cego de nascença<br />

a ausência do mundo visual e do mundo auditivo não rompe<br />

a comunicação com o mundo em geral, há sempre algo diante<br />

dele, o ser para decifrar, uma omnitudo realitatis, e essa possibili<strong>da</strong>de<br />

é fun<strong>da</strong><strong>da</strong> para sempre pela primeira experiência<br />

sensorial, por mais estreita ou por mais imperfeita que ela<br />

possa ser. Não temos outra maneira de saber o que é o mundo<br />

senão retomando essa afirmação que a ca<strong>da</strong> instante se<br />

faz em nós, e qualquer definição do mundo seria apenas uma<br />

caracterização abstrata que na<strong>da</strong> nos diria se já não tivéssemos<br />

acesso ao definido, se nós não o conhecêssemos pelo único<br />

fato de que somos. E na experiência do mundo que to<strong>da</strong>s as<br />

nossas operações lógicas de significação devem fun<strong>da</strong>r-se, e<br />

o próprio mundo não é portanto uma certa significação comum<br />

a to<strong>da</strong>s as nossas experiências, que leríamos através delas,<br />

uma idéia que viria animar a matéria do conhecimento.<br />

Não temos uma série de perfis do mundo, dos quais uma consciência<br />

em nós operaria a ligação. Sem dúvi<strong>da</strong> o mundo se

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