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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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532 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

que na<strong>da</strong> e este mundo antes que um outro, já que a figura<br />

deste mundo e a própria existência de um mundo são apenas<br />

conseqüências do ser necessário. A segun<strong>da</strong> concepção reduz<br />

a evidência à aparência: to<strong>da</strong>s as minhas ver<strong>da</strong>des afinal são<br />

apenas evidências para mim e para um pensamento feito como<br />

o meu, elas são solidárias à minha constituição psicofisiológica<br />

e à existência deste mundo. Podem-se conceber outros<br />

pensamentos que funcionem segundo outras regras, e outros<br />

mundos tão possíveis quanto este. Aqui se coloca a questão<br />

de saber por que existe algo antes que na<strong>da</strong>, e por que<br />

este mundo foi realizado, mas a resposta está por princípio<br />

fora de nosso alcance, já que estamos encerrados em nossa<br />

constituição psicofisiológica, que é um simples fato do mesmo<br />

modo que a forma de nosso rosto ou o número de nossos<br />

dentes. Essa segun<strong>da</strong> concepção não é tão diferente <strong>da</strong> primeira<br />

quanto parece: ela supõe uma referência tácita a um<br />

saber e a um ser absolutos, em relação aos quais nossas evidências<br />

de fato são considera<strong>da</strong>s como inadequa<strong>da</strong>s. Em uma<br />

concepção fenomenológica, esse dogmatismo e esse ceticismo<br />

são ultrapassados ao mesmo tempo. As leis de nosso pensamento<br />

e nossas evidências são fatos sim, mas inseparáveis de<br />

nós, implicados em to<strong>da</strong> concepção que possamos formar do<br />

ser e do possível. Não se trata de limitar-nos aos fenômenos,<br />

de fechar a consciência em seus próprios estados, reservando<br />

a possibili<strong>da</strong>de de um outro ser para além do ser aparente,<br />

nem de tratar nosso pensamento como um fato entre os fatos,<br />

mas de definir o ser como aquilo que nos aparece e a consciência<br />

como fato universal. Eu penso, e tal ou tal pensamento<br />

me parece ver<strong>da</strong>deiro; sei muito bem que ele não é ver<strong>da</strong>deiro<br />

sem condição e que a explicitação total seria uma tarefa<br />

infinita; mas isso não impede que no momento em que penso<br />

eu pense algo, e que to<strong>da</strong> outra ver<strong>da</strong>de, em nome <strong>da</strong> qual<br />

eu desejaria desvalorizar a esta, se para mim pode chamarse<br />

de ver<strong>da</strong>de ela deve concor<strong>da</strong>r com o pensamento " ver<strong>da</strong>-

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