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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O CORPO 249<br />

testará que aqui a operação expressiva realiza ou efetua a significação<br />

e não se limita a traduzi-la. O mesmo acontece, malgrado<br />

a aparência, com a expressão dos pensamentos pela fala.<br />

O pensamento não é na<strong>da</strong> de "interior", ele não existe fora<br />

do mundo e fora <strong>da</strong>s palavras. O que nos engana a respeito<br />

disso, o que nos faz acreditar em um pensamento que existiria<br />

para si antes <strong>da</strong> expressão, são os pensamentos já constituídos<br />

e já expressos dos quais podemos lembrar-nos silenciosamente<br />

e através dos quais nos <strong>da</strong>mos a ilusão de uma<br />

vi<strong>da</strong> interior. Mas, na reali<strong>da</strong>de, esse pretenso silêncio é sussurrante<br />

de falas, esta vi<strong>da</strong> interior é uma linguagem interior.<br />

O pensamento "puro" reduz-se a um certo vazio <strong>da</strong><br />

consciência, a uma promessa instantânea. A nova intenção<br />

significativa só se conhece a si mesma recobrindo-se de significações<br />

já disponíveis, resultado de atos de expressão anteriores.<br />

As significações disponíveis entrelaçam-se repentinamente<br />

segundo uma lei desconheci<strong>da</strong>, e de uma vez por to<strong>da</strong>s<br />

um novo ser cultural começou a existir. Portanto o pensamento<br />

e a expressão constituem-se simultaneamente, quando<br />

nossa aquisição cultural se mobiliza a serviço dessa lei<br />

desconheci<strong>da</strong>, assim como nosso corpo repentinamente se<br />

presta a um gesto novo na aquisição do hábito. A fala é um<br />

ver<strong>da</strong>deiro gesto e contém seu sentido, assim como o gesto<br />

contém o seu. É isso que torna possível a comunicação. Para<br />

que eu compreen<strong>da</strong> as falas do outro, evidentemente é preciso<br />

que seu vocabulário e sua sintaxe "já sejam conhecidos"<br />

pór mim. Mas isso não significa que as falas agem suscitando<br />

em mim "representações" que lhes seriam associa<strong>da</strong>s e<br />

cuja reunião terminaria por reproduzir em mim a "representação"<br />

original <strong>da</strong>quele que fala. Não é com "representações"<br />

ou com um pensamento que em primeiro lugar eu comunico,<br />

mas com um sujeito falante, com um certo estilo de ser<br />

e com o "mundo" que ele visa. Assim como a intenção significativa<br />

que pôs em movimento a fala do outro não é um

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