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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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392 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

te, antes que sejam objetivados, a decisão de perguntar à própria<br />

experiência o seu próprio sentido, em uma palavra a fenomenologia<br />

não termina pela negação do ser e pela negação<br />

do sentido? Sob o nome de fenômeno, não é a aparência e<br />

a opinião que ela traz de volta? Ela não põe na origem do<br />

saber exato uma decisão tão pouco justificável quanto a que<br />

encerra o louco em sua loucura, e a última palavra dessa sabedoria<br />

não é reconduzir à angústia <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de ociosa<br />

e separa<strong>da</strong>? Estes são os equívocos que nos resta dissipar. A<br />

consciência mítica ou onírica, a loucura, a percepção, to<strong>da</strong>s<br />

elas em sua diferença não estão fecha<strong>da</strong>s em si mesmas, não<br />

são ilhotas de experiência sem comunicação e de onde não<br />

se poderia sair. Nós nos recusamos a tornar o espaço geométrico<br />

imanente ao espaço mítico e, em geral, a subordinar to<strong>da</strong><br />

experiência a uma consciência absoluta dessa experiência<br />

que a situaria no conjunte <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, porque a uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

experiência, assim compreendi<strong>da</strong>, torna incompreensível sua<br />

varie<strong>da</strong>de. Mas a consciência mítica é aberta a um horizonte<br />

de objetivações possíveis. O primitivo vive seus mitos sobre<br />

um fundo perceptivo claramente articulado o suficiente para<br />

que os atos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana, a pesca, a caça, as relações com<br />

os civilizados, sejam possíveis. O próprio mito, por mais difuso<br />

que possa ser, tem para o primitivo um sentido identificável,<br />

já que ele justamente forma um mundo, quer dizer,<br />

uma totali<strong>da</strong>de em que ca<strong>da</strong> elemento tem relações de sentido<br />

com os outros. Sem dúvi<strong>da</strong>, a consciência mítica não é<br />

consciência de coisa, quer dizer, do lado subjetivo ela é um<br />

fluxo, não se fixa e não se conhece a si mesma; do lado objetivo,<br />

ela não põe diante de si termos definidos por um certo<br />

número de proprie<strong>da</strong>des isoláveis e articula<strong>da</strong>s umas às outras.<br />

Mas ela não se arrebata a si mesma em ca<strong>da</strong> uma de<br />

suas pulsações, sem o que ela não seria consciência de coisa<br />

alguma. Ela não toma distância em relação aos seus noemas,<br />

mas se passasse com ca<strong>da</strong> um deles, se não esboçasse o movi-

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