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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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o CORPO 135<br />

só podem afetar-me se primeiramente sou de tal natureza que<br />

existam para mim situações de fato. Em outros termos, observo<br />

os objetos exteriores com meu corpo, eu os manejo, os<br />

inspeciono, dou a volta em torno deles, mas, quanto ao meu<br />

corpo, não o observo ele mesmo: para poder fazê-lo, seria preciso<br />

dispor de um segundo corpo que não seria ele mesmo<br />

observável. Quando digo que meu corpo é sempre percebido<br />

por mim, essas palavras não devem então ser entendi<strong>da</strong>s em<br />

um sentido simplesmente estatístico e deve haver na apresentação<br />

do corpo próprio algo que torne impensável sua ausência<br />

ou mesmo sua variação. O que é então? Minha cabeça<br />

só é <strong>da</strong><strong>da</strong> à minha visão pela extremi<strong>da</strong>de de meu nariz e pelo<br />

contorno de minhas órbitas. Posso ver meus olhos em um<br />

espelho com três faces, mas eles são os olhos de alguém que<br />

observa, e mal posso surpreender meu olhar vivo quando, na<br />

rua, um espelho me envia inopina<strong>da</strong>mente minha imagem.<br />

No espelho, meu corpo não deixa de seguir minhas intenções<br />

como sua sombra, e, se a observação consiste em fazer variar<br />

o ponto de vista mantendo fixo o objeto, ele não se subtrai<br />

à observação e se mostra como um simulacro de meu corpo<br />

tátil, já que ele imita suas iniciativas em lugar de corresponder<br />

a elas por um livre desenrolar de perspectivas. Meu corpo<br />

visual é objeto nas partes distancia<strong>da</strong>s de minha cabeça,<br />

mas, à medi<strong>da</strong> que se aproxima dos olhos, ele se separa dos<br />

objetos, arranja no meio deles um quase-espaço ao qual eles<br />

não têm acesso, e, quando quero preencher este vazio recorrendo<br />

à imagem do espelho, ela ain<strong>da</strong> me remete a um original<br />

do corpo que não está ali, entre as coisas, mas do meu<br />

lado, aquém de qualquer visão. Malgrado as aparências, o<br />

mesmo acontece com meu corpo tátil, pois, se posso apalpar<br />

com a mão esquer<strong>da</strong> a minha mão direita enquanto ela toca<br />

um objeto, a mão direita-objeto não é a mão direita que toca:<br />

a primeira é um entrelaçamento de ossos, de músculos e de<br />

carne largado em um ponto do espaço, a segun<strong>da</strong> atravessa

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