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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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312 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

próximos e neles concentre os olhos, é preciso que ele sinta 57<br />

a diplopia como um desequilíbrio ou como uma visão imperfeita,<br />

e que ele se oriente para o objeto único como para a<br />

resolução dessa tensão e a conclusão <strong>da</strong> visão. "É preciso<br />

'olhar' para ver." 58 Portanto, a uni<strong>da</strong>de do objeto na visão<br />

binocular não resulta de algum processo em terceira pessoa,<br />

que finalmente produziria uma imagem única fundindo as<br />

duas imagens monoculares. Quando se passa <strong>da</strong> diplopia à<br />

visão normal, o objeto único substitui as duas imagens e visivelmente<br />

não é sua simples sobreposição: ele é de outra ordem<br />

que elas, incomparavelmente mais sólido do que elas.<br />

Na visão binocular, as duas imagens <strong>da</strong> diplopia não são amalgama<strong>da</strong>s<br />

em uma só, e a uni<strong>da</strong>de do objeto é intencional. Mas<br />

— eis-nos no ponto a que queríamos chegar — ela não é por<br />

isso uma uni<strong>da</strong>de nocional. Passa-se <strong>da</strong> diplopia ao objeto único<br />

não por uma inspeção do espírito, mas quando os dois olhos<br />

deixam de funcionar ca<strong>da</strong> um por sua conta e são utilizados<br />

por ura olhar único como um só órgão. Não é o sujeito epistemológico<br />

que efetua a síntese, é o corpo, quando sai de sua<br />

dispersão, se ordena, se dirige por todos os meios para um<br />

termo único de seu movimento, e quando, pelo fenômeno <strong>da</strong><br />

sinergia, uma intenção única se concebe nele. Nós só retiramos<br />

a síntese do corpo objetivo para atribuí-la ao corpo fenomenal,<br />

quer dizer, ao corpo enquanto ele projeta em torno<br />

de si um certo "meio" 59 , enquanto suas "partes" se conhecem<br />

dinamicamente umas às outras, e seus receptores se<br />

dispõem de maneira a tornar possível, por sua sinergia, a percepção<br />

do objeto. Dizendo que essa intencionali<strong>da</strong>de não é<br />

um pensamento, queremos dizer que ela não se efetua na<br />

transparência de uma consciência, e que ela toma por adquirido<br />

todo o saber latente que meu corpo tem de si mesmo.<br />

Apoia<strong>da</strong> na uni<strong>da</strong>de pré-lógica do esquema corporal, a síntese<br />

perceptiva não possui o segredo do objeto, assim como<br />

o do corpo próprio, e é por isso que o objeto percebido se

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