12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

636 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

porais, seja ao conhecimento que temos dessa vi<strong>da</strong>. Mas, em ca<strong>da</strong> caso, uma<br />

<strong>da</strong>s ordens de significação pode ser considera<strong>da</strong> dominante, tal gesto como<br />

"sexual", tal outro como "amoroso", tal outro enfim como "guerreiro",<br />

e mesmo na coexistência tal período <strong>da</strong> história pode ser considerado como<br />

sobretudo cultural, em primeiro lugar político ou em primeiro lugar econômico.<br />

A questão de saber se a história de nosso tempo tem seu sentido principal<br />

na economia, e se nossas ideologias só lhe dão seu sentido derivado e<br />

segundo, é problema que não depende mais <strong>da</strong> filosofia mas <strong>da</strong> política, e<br />

que se resolverá investigando qual, entre o cenário econômico e o cenário<br />

ideológico, recobre mais completamente os fatos. A filosofia pode mostrar<br />

apenas aquilo que é possível a partir <strong>da</strong> condição humana.<br />

VI. O corpo como expressão e a fala<br />

1. Essa distinção entre o ter e o ser não coincide com a de G. Mareei<br />

(Etre et Avoir), embora não a exclua. G. Mareei toma o ter no sentido fraco<br />

que ele tem quando designa uma relação de proprie<strong>da</strong>de (tenho uma casa,<br />

tenho um chapéu), e toma o ser imediatamente no sentido existencial de ser<br />

para... ou de assumir (eu sou meu corpo, eu sou minha vi<strong>da</strong>). Preferimos<br />

levar em conta o uso que atribui ao termo ser o sentido fraco <strong>da</strong> existência<br />

como coisa ou <strong>da</strong> predicação (a mesa é ou é grande) e designa pela palavra<br />

ter a relação do sujeito ao termo no qual ele se projeta (tenho uma idéia,<br />

tenho inveja, tenho medo). Decorre <strong>da</strong>í que nosso "ter" corresponde mais<br />

ou menos ao ser de G. Mareei, e nosso ser ao seu "ter".<br />

2. Gelb e Goldstein, Ueber Farbennamenamnesie.<br />

3. Por exemplo, Piaget, La représentation du monde chez Venjant, pp. 60 ss.<br />

4. Bem entendido, convém distinguir entre uma fala autêntica, que<br />

formula pela primeira vez, e uma expressão secundária, uma fala sobre falas,<br />

que representa o comum <strong>da</strong> linguagem empírica. Apenas a primeira é<br />

idêntica ao pensamento.<br />

5. Mais uma vez, o que dizemos aqui só se aplica à fala originária —<br />

aquela <strong>da</strong> criança que pronuncia sua primeira palavra, do apaixonado que<br />

revela seu sentimento, a do "primeiro homem que tenha falado" ou aquela<br />

do escritor e do filósofo que despertam a experiência primordial para aquém<br />

<strong>da</strong>s tradições.<br />

6. Nachdenken, nachvollziehen de Husserl, Ursprung der Geometne, pp. 212 ss.<br />

7. Sartre, L'imagination, p. 148.<br />

8. "(•••) Quando eu acor<strong>da</strong>va assim, meu espírito agitando-se para procurar,<br />

sem conseguir, saber onde eu estava, tudo girava em torno de mim<br />

na obscuri<strong>da</strong>de, as coisas, os lugares, os anos. Meu corpo, entorpecido demais<br />

para mover-se, procurava, segundo a forma de sua fadiga, localizar a<br />

posição de seus membros para induzir <strong>da</strong>li a direção <strong>da</strong> parede, o lugar dos<br />

móveis, para reconstruir e nomear o lugar em que ele se encontrava. Sua<br />

memória, a memória de suas costelas, de seus joelhos, de seus ombros,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!