12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

320 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

ciência de um objeto inesgotável e estamos afun<strong>da</strong>dos nele<br />

como em areia movediça porque, entre ele e nós, existe este<br />

saber latente que nosso olhar utiliza, do qual apenas presumimos<br />

que seu desenvolvimento racional seja possível, e que<br />

permanece sempre para aquém de nossa percepção. Como<br />

dizíamos, se to<strong>da</strong> percepção tem algo de anônimo, é porque<br />

ela retoma um saber que não põe em questão. Aquele que percebe<br />

não está desdobrado diante de si como uma consciência<br />

deve estar, ele tem uma espessura histórica, retoma uma tradição<br />

perceptiva e é confrontado com um presente. Na percepção,<br />

nós não pensamos o objeto e não nos pensamos<br />

pensando-o, nós somos para o objeto e confundimo-nos com<br />

esse corpo que sabe mais do que nós sobre o mundo, sobre<br />

os motivos e os meios que se têm de fazer sua síntese. Foi<br />

por isso que dissemos, com Herder, que o homem é um sensorium<br />

comum. Nessa cama<strong>da</strong> originária do sentir que recuperamos<br />

sob a condição de coincidir ver<strong>da</strong>deiramente com o ato<br />

de percepção e de abandonar a atitude crítica, vivo a uni<strong>da</strong>de<br />

do sujeito e a uni<strong>da</strong>de intersensorial <strong>da</strong> coisa, eu não os<br />

penso como o farão a análise reflexiva e a ciência. — Mas<br />

o que é o ligado sem a ligação, o que é este objeto que ain<strong>da</strong><br />

não é objeto para alguém? A reflexão psicológica, que põe<br />

meu ato de percepção como um acontecimento de minha história,<br />

pode muito bem ser secundária. Mas a reflexão transcendental,<br />

que me mostra como o pensador intemporal do<br />

objeto, não introduz nele na<strong>da</strong> que ali já não esteja: ela se<br />

limita a formular aquilo que dá um sentido a "a mesa", "a<br />

cadeira'', aquilo que faz estável a sua estrutura e torna possível<br />

minha experiência <strong>da</strong> objetivi<strong>da</strong>de. Enfim, o que é viver<br />

a uni<strong>da</strong>de do objeto ou do sujeito, senão fazê-la? Mesmo<br />

se se supõe que ela aparece com o fenômeno de meu corpo,<br />

não é preciso que eu a pense nele para encontrá-la ali, e que<br />

eu faça a síntese desse fenômeno para ter sua experiência?<br />

— Nós não procuramos extrair o para si do em si, não retor-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!