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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 431<br />

denesse prepara para Ma<strong>da</strong>me de Mortsauf tão claramente<br />

quanto em uma carícia: "Eu pensava que as cores e as folhagens<br />

tinham uma harmonia, uma poesia que, encantando o<br />

olhar, vinha à luz no entendimento, assim como frases musicais<br />

despertam mil recor<strong>da</strong>ções no fundo dos corações amantes<br />

e amados. Se a cor é a luz organiza<strong>da</strong>, ela não deve ter<br />

um sentido como as combinações do ar têm o seu? (...) O<br />

amor tem seu brasão e secretamente a condessa o decifrará.<br />

Ela me lançou um desses olhares incisivos que se assemelham<br />

ao grito de um doente tocado em sua chaga: ela estava ao<br />

mesmo tempo envergonha<strong>da</strong> e encanta<strong>da</strong>." O buquê é evidentemente<br />

um buquê de amor, e to<strong>da</strong>via é impossível dizer<br />

aquilo que, nele, significa o amor, e é por isso mesmo que<br />

Ma<strong>da</strong>me de Mortsauf pode aceitá-lo sem violar seus juramentos.<br />

Não existe outra maneira de compreendê-lo senão olhálo,<br />

mas então ele diz aquilo que ele quer dizer. Sua significação<br />

é o vestígio de uma existência, legível e compreensível<br />

por uma outra existência. A percepção natural não é uma<br />

ciência, não põe as coisas às quais se dirige, não as distancia<br />

para observá-las, ela vive com elas, ela é a "opinião" ou a<br />

"fé originária" que nos liga a um mundo como à nossa pátria,<br />

o ser do percebido é o ser antepredicativo em direção<br />

ao qual nossa existência total está polariza<strong>da</strong>.<br />

To<strong>da</strong>via, não esgotamos o sentido <strong>da</strong> coisa definindo-a<br />

como o correlativo de nosso corpo e de nossa vi<strong>da</strong>. Afinal,<br />

só apreendemos a uni<strong>da</strong>de de nosso corpo na uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> coisa,<br />

e é a partir <strong>da</strong>s coisas que nossas mãos, nossos olhos, todos<br />

os nossos órgãos dos sentidos nos aparecem como tantos<br />

instrumentos substituíveis. O corpo por ele mesmo, o corpo<br />

em repouso, é apenas uma massa obscura, nós o percebemos<br />

como um ser preciso e identificável quando ele se move em<br />

direção a uma coisa, enquanto ele se projeta intencionalmente<br />

para o exterior, e isso aliás sempre pelo canto do olho e na<br />

margem <strong>da</strong> consciência, cujo centro é ocupado pelas coisas

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